Portas abertas

Dois projectos jazzísticos oriundos do Porto, com o carimbo de qualidade Porta-Jazz

Com a assinatura da Porta-Jazz — Associação de Músicos de Jazz do Porto, aqui estão dois novos lançamentos que confirmam o dinamismo da jovem cena jazz nortenha. Desde logo destaca-se a qualidade da edição, embalagem e design — elemento secundário à música, sim, mas ainda assim muito relevante.

Reunindo um grupo de compinchas que têm participado em alguns dos seus anteriores discos, Baba Mongol é um quinteto que trabalha uma música distinta. Esta é, antes de mais, uma música gingona, com swing — lá pelo meio do disco há mesmo um tema chamado Sr. Suingue — e ao longo dos 45 minutos do álbum são apresentados 21 temas, algo pouco normal para um disco de jazz. É verdade que alguns desses “temas” são apenas breves interlúdios, mas a média dos temas “normais” fica-se entre os três e os quatro minutos. Esta acaba por ser uma característica diferenciadora, preferindo o quinteto apostar numa música concentrada, muito estruturada, onde o espaço é bem definido.

Baba Mongol resulta do encontro de José Pedro Coelho e Rui Teixeira (saxofones), Hugo Raro (piano), Filipe Teixeira (contrabaixo) e António Torres Pinto (bateria). Tendo editado o seu primeiro disco há dois anos, pela Tone of a Pitch, este novo disco representa uma clara evolução. Distribuindo uma fervilhante criatividade por múltiplos projectos, este conjunto de músicos tem aqui a oportunidade de explanar a sua faceta mais concisa e metódica.

Da mesma editora, mas numa toada substancialmente diferente, apresenta-se o guitarrista Miguel Moreira. O disco arranca a todo o vapor, em ritmo acelerado, com o guitarrista a exibir todos os seus dotes técnicos logo na primeira faixa. É um tema-manifesto, que envolve o grupo sob forte tensão, que funciona como veículo para a expressão do virtuosismo de Moreira. Liderando um sexteto, Miguel Moreira conta a companhia de João Mortágua e Mário Santos nos saxofones, Alexandre Dahmen no piano, Pedro Barreiros no contrabaixo e José Marrucho na bateria — músicos de competência confirmada.

O grupo desenvolve uma música bem articulada e com espaços mais abertos, em contraste com o disco anterior, embora bastas vezes siga por caminhos convencionais. De forma geral as composições não deslumbram, surgindo ideias que prometem, mas cujo desenvolvimento acaba por não surpreender. O tema mais atípico — a peça central Suite do relógio — resulta de uma abordagem angulosa, sendo aquele que deixa mais água na boca. Apesar de o disco soar algo inconstante, vale a pena conhecer este guitarrista de apurada técnica e som claro.

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