Pode Anish Kapoor instalar uma vagina gigante nos jardins de Versalhes?

Descrição da obra pelo artista como "a vagina da rainha" não caiu bem em França.

Foto
Instalação está virada para o Palácio de Versalhes DR/Kapoor Studio

A exposição ainda nem abriu ao público e já está a gerar controvérsia, tudo por causa de uma obra específica. O celebrado artista Anish Kapoor instalou uma vagina gigante nos jardins do Palácio de Versalhes, em Paris, e isso não está a ser visto com bons olhos. Pelo contrário, está acesa a discussão em França, já depois de em 2012 Joana Vasconcelos ter visto a sua peça controversa A Noiva, com milhares de tampões, ter sido recusada em Versalhes por não se adequar na exposição.

A instalação já por si estava a levantar algumas dúvidas, desde logo por causa do nome, Dirty Corner, e depois por se assemelhar a uma vagina. Mas se dúvidas existiam, Anish Kapoor, nascido em Bombaim, na Índia, em 1954, mas radicado em Londres desde o princípio da década de 1970, deixou claro: é mesmo isso, uma vagina. Numa entrevista esta semana ao jornal francês Le Journal Du Dimanche, o artista conhecido pela sua exuberância descreveu a sua obra como “a vagina da rainha que tomou o poder”. E foi aí que a discussão disparou. É Anish Kapoor um génio provocador ou cometeu um deslize?

Dirty Corner é uma escultura de aço em forma de funil, ou de vagina, se quisermos, no meio de várias pedras partidas, virada exactamente para o Palácio de Versalhes que desde 2008 vem convidando artistas contemporâneos a dialogarem com os seus mestres do barroco. Estas exposições são das mais importantes do calendário mundial das artes e também das mais procuradas. Versalhes, só por si, tem cinco milhões de visitantes anuais.

François de Mazières, autarca de Versalhes e deputado dos Republicanos, partido de Nicolas Sarkozy, reagiu à controvérsia no Twitter, defendendo que o artista cometeu um erro. Na imprensa francesa, as opiniões dividem-se.  Le Figaro aplaude o trabalho de Anish Kapoor, que tem ficado conhecido nos últimos anos sobretudo com as suas obras de escala monumental. “Qualquer polémica só vai trazer mais visitantes”, lê-se no diário sobre a exposição que ficará patente ao público até Outubro. A revista Les Inrocks, por sua vez, vê em Dirty Corner um simbolismo do poder e da identidade francesa de Versalhes, onde viveu a corte de Luís XIV.

Na entrevista ao Le Journal Du Dimanche, Kapoor elogiu a organização da exposição: são “bravos e corajosos” porque o seu trabalho é uma “provocação”, admitiu.

Anish Kapoor é o autor de obras como Marsyas, a misteriosa membrana em PVC com que ocupou os 150 metros de comprimento do Turbine Hall da Tate, em 2003, a ArcelorMittal Orbit, a peça de mais de 100 metros de altura concebida para o Parque Olímpico de Queen Elizabeth, em Londres, tida como a maior escultura do Reino Unido, ou Leviathan, o enorme balão que em 2011 instalou no Grand Palais, em Paris.

O artista sucede a Lee Ufan (2014), Giuseppe Penone (2013), Joana Vasconcelos (2012), Bernar Venet (2011), Takashi Murakami (2010), Xavier Veilhan (2009) e Jeff Koons (2008). Joana Vasconcelos é até hoje a única mulher a constar desta lista. No seu ano, também a artista plástica portuguesa viu uma obra sua ser alvo de crítica – A Noiva, o lustre com milhares de tampões, foi recusada pela organização com a justificação de que não se adequava ao espaço. A peça foi exposta paralelamente no Centquatre, em Paris.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários