Pintura mais cara do mundo vai ser mostrada no Centro de Arte Rainha Sofia

Nafea faa ipoipo, de Paul Gauguin, chega esta sexta-feira a Madrid para uma das exposições das colecções do Kunstmuseum de Basileia.

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Quando é que casas? foi pintado em 1892 DR

O quadro de Paul Gauguin que, em Fevereiro último, foi vendido por um coleccionador suíço a um comprador do Qatar por 300 milhões de dólares (então equivalentes a 271 milhões de euros), transformando-se na obra de arte mais cara de sempre, vai poder ser vista, a partir desta sexta-feira e até 14 de Setembro, no Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid.

Nafea faa ipoipo (título que poderá ser traduzido por Quando é que casas?), uma obra de 1892, vem juntar-se a uma das duas exposições com que o museu da capital espanhola está a mostrar, desde Março, algumas das obras mais relevantes do Kunstmuseum de Basileia, que tem a particularidade de ser municipal mas possui das maiores e mais importantes colecções da história da arte, com realce para a época moderna e contemporânea.

Coleccionismo e modernidade – Dois casos de estudo: Colecções Im Obersteg e Rudolf Staechelin (onde se integra a pintura de Gauguin) e Fogo branco – A colecção moderna do Kunstmuseum de Basileia são as duas mostras do Rainha Sofia — simultaneamente, o Museu do Prado apresenta também Dez Picassos provenientes do mesmo museu suíço, que entretanto entrou em obras e só irá reabrir na Primavera do próximo ano.

João Fernandes, subdirector do museu madrileno de arte contemporânea, explicou ao PÚBLICO que Quando é que casas? só agora chega à capital espanhola porque, até há pouco tempo, esteve exposto em Basileia, na Fundação Beyeler, numa mostra exclusivamente dedicada a Paul Gauguin (1848-1903).

Nafea faa ipoipo vem acrescentar-se a uma mostra que inclui trabalhos de alguns nomes maiores da história da pintura do último século e meio, de Cézanne a Van Gogh, de Monet e Pissaro, de Manet a Modigliani e muitos outros.

Segundo noticia a jornal El Mundo, a apresentação do quadro de Gauguin, na sexta-feira, irá contar com a presença do seu anterior proprietário, o coleccionador suíço Rudolf Staechelin, que foi quem no início do ano decidiu colocá-lo à venda dando assim como terminado o empréstimo da obra que a sua família tinha feito ao museu de Basileia, há já mais de meio século.

Não há ainda confirmação oficial da identidade do comprador da pintura, mas tanto o The New York Times — que foi quem revelou os pormenores da venda, em Fevereiro — como o El Mundo, agora, apontam para que ela possa ter ido enriquecer a colecção da Autoridade dos Museus do Qatar — a mesmo instituição que, em 2011, tinha pago 250 milhões de dólares pelo quadro de Paul Cézanne, Os jogadores de cartas, assegurando então a venda mais alta do mercado mundial da arte.

Nafea faa ipoipo foi pintado por Gauguin um ano após a sua chegada ao Taiti. Representa duas mulheres jovens numa paisagem ao ar livre, uma delas usando a roupa tradicional da terra, outra com um vestido rosa de missionária.

João Fernandes nota que se trata de “um quadro exemplar da forma como Gauguin projecta a construção do seu sonho de um mundo perfeito, ressuscita o Éden original, a partir de uma cena do quotidiano taitiano”. Para o ex-director do Museu de Serralves, as duas mulheres — a mais nova delas terá tido como modelo a companheira taitiana do pintor, Tehamana — “representam a juventude paradisíaca, a beleza do desejo”. E chama a atenção para o contraste das cores das roupas das mulheres com a paisagem em fundo, de onde estas se destacam. "A cor deixa de ser representação e passa a ser a transformação da realidade”, acrescenta João Fernandes, que vê nesta pintura “um marco" na obra do pintor francês.

Sobre se isso justifica os 300 milhões de dólares do negócio, o também curador e crítico já tem dúvidas. E, mais do que isso, tem preocupações quanto à situação em que os museus, espaços de exposição pública da arte, ficam neste mundo de economia globalizada e especulação financeira. “Nós, nos museus, ficamos preocupados sempre que vemos uma obra de arte atingir um preço que a torna inacessível, e por isso também invisível”, diz João Fernandes. “Estes valores privatizam as obras de arte e afastam-nas do acesso público”, acrescenta, lembrando que a arte de Gauguin, como dos outros grandes artistas, "é património universal".

Sobre o destino de Nafea faa ipoipo, sabe-se apenas que, até 14 de Setembro, ficará no museu Rainha Sofia, devendo posteriormente ser também mostrado numa exposição em Washington. Depois, ninguém sabe para onde irá.

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