Picasso roubado do Pompidou regressa a casa depois de uma odisseia de 14 anos

Obra foi descoberta em Dezembro no aeroporto de Newark. Foi enviada como uma encomenda de Natal no valor de 30 euros.

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A pintura La Coiffeuse poderá ser vista em breve em Paris DR

Foi roubada não se sabe bem como nem ao certo quando. O Centro Pompidou de Paris deu por falta dela em 2001. Inesperadamente, La Coiffeuse (A cabeleireira) de Picasso apareceu em Dezembro do ano passado no aeroporto de Newark, nos Estados Unidos. Alguém a tentava enviar desde a Bélgica como uma encomenda de Natal. Acabou na alfândega. Nesta quinta-feira, 14 anos depois, a obra é devolvida a França numa cerimónia formal na embaixada francesa em Washington DC.

Segundo a Bloomberg, que teve acesso a alguma da documentação do processo, em 2001 a obra estava avaliada em 2,2 milhões de euros mas hoje valerá mais do que isso. A AFP aponta para os 13 milhões de euros.

Foi em Dezembro que tudo aconteceu mas só em Fevereiro é que o caso insólito foi tornado público. Ainda antes do Natal, as autoridades norte-americanas interceptaram uma encomenda marcada como “artesanato/brinquedo” onde se lia: Joyeux Noël (Feliz Natal), que seguia da Bélgica para Nova Iorque via FedEx. O valor descrito do pacote era de 30 euros e nada fazia antever que em causa estava uma obra de um dos maiores nomes da arte.

Como acontece com grande regularidade, as encomendas transatlânticas passam muitas vezes pelo controlo alfandegário. E foi o que aconteceu com La Coiffeuse, de 33 cm x 46 cm. Tendo em conta o que ali foi encontrado, o quadro seguiu da alfândega para a divisão da polícia que investiga o tráfico internacional de obras de arte. Tudo o que se sabia então era que alguém de nome Robert com morada na Bélgica havia enviado a pintura a óleo para um armazém climatizado em Long Island, no Estado de Nova Iorque.

As autoridades perceberam então tratar-se da obra desaparecida há mais de dez anos, que pertence à colecção do Estado francês e estava na época no Centro Pompidou de Paris. A última vez que tinha sido exibida foi em 1998 e em Munique. Depois desta exposição, a pintura de Picasso foi armazenada no importante museu francês que só em 2001, quando um pedido de empréstimo deu entrada no Pompidou, é que se deu conta de que a obra tinha desaparecido. Nunca se conseguiu identificar o autor do crime.

A promessa de devolver a peça a França foi imediatamente feita e é agora cumprida numa cerimónia formal na embaixada francesa em Washington DC.

“É realmente um grande feito conseguir recuperar uma propriedade cultural como esta. Significa muito para o país a quem vai ser devolvida. E significa muito para toda a gente”, diz à Bloomberg Robert Wittman, ex-FBI, agora responsável por uma empresa de consultadoria especializada em recuperar obras de arte perdidas ou roubadas.

Wittman acredita que com tempo cerca de 90% das obras valiosas roubadas, como esta de Picasso, são recuperadas porque o mercado é pequeno e o controlo é grande.

“Esta pintura é parte do nosso património”, reagiu o adido da Embaixada de França nos Estados Unidos Francois Richard. “É também uma excelente notícia para o público que terá a oportunidade de ver outra vez esta obra de arte única.”

Em Fevereiro, quando se soube que a obra tinha sido descoberta, Alain Seban, presidente do Centro Pompidou, exprimiu o desejo de a poder apresentar “rapidamente” ao público do museu. “Estamos impressionados com este feliz desfecho e exprimimos a nossa profunda gratidão aos serviços alfandegários americanos e franceses”, disse na altura.

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