Paulo Rocha extraordinário
Duas obras-primas incontornáveis restauradas em condições pristinas, mais um filme fechado que de facto encerra uma obra.
Confrontado com a “redescoberta” dos dois primeiros filmes de Paulo Rocha, obras seminais do Cinema Novo restauradas em condições pristinas, é legítimo que o espectador se pergunte o que aconteceu para que o autor de duas obras-primas incontornáveis não tenha granjeado reconhecimento, interno ou internacional, ao nível de Manoel de Oliveira ou João César Monteiro.
Os Verdes Anose
Mudar de Vidasão obras de estarrecer em qualquer parte do mundo, retratos astutos e atentos de um país intemporal e atávico abertos ao diálogo com o espectador, mesmo que em tons razoavelmente diferentes (espiral entrópica urbana na linhagem Antonioni no primeiro, ficção do real em tom rosselliniano no segundo).
, por contraste, é uma espécie de quebra-cabeças cujas “pontas” autobiográficas se dispersam numa multidão de pistas de leitura apenas apreensíveis por quem acompanhou os filmes no seu tempo, obra “em circuito fechado” que é mais uma “coda” para uma carreira que nunca voltou aos píncaros dos primeiros tempos. Este
film-à-clefque as circunstâncias conspiraram para desviar do projecto original, colagem de fragmentos que exigem conhecimento prévio de uma obra que poucos viram e ainda menos recordam, acaba por dar uma resposta possível ao porquê de Rocha não ter o mesmo reconhecimento dos seus contempo-râneos. Mas que não haja dúvidas de que, ainda por cima nestes restauros extraordinários,
Os Verdes Anose
Mudar de Vidasão títulos essenciais do cinema feito em Portugal — diríamos, mesmo, do cinema mundial dos anos 1960.