Para além do Mediterrâneo

A cortiça evoca sempre o elemento que a precede: a paisagem do montado mediterrânico.

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Bote, barco em cortiça e poliuretano. Design Big Game para Matéria
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Pino, boneco em aglomerado de cortiça. Design: Daniel Caramelo para Matéria
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Pomme, maçã decorativa em cortiça e pele. Design: Lars Beller Fjetland para Discipline. À venda na Nord
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Par, saleiro/pimenteiro em vidro e aglomerado de cortiça. Design Nendo para Matéria
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Parte, fruteira em aglomerado de cortiça. Design Nendo para Matéria
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Pianissimo, candeeiro em vidro despolido lacado e cortiça. Design: Lars Beller Fjetland para Discipline. À venda na Nord
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Gelo, balde de gelo em aglomerado de cortiça e plástico reciclável. Design: Filipe Alarcão, para Matéria
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Aro, fruteira em aglomerado de cortiça e metal. Design: Miguel Vieira Baptista para Matéria
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Rufo, tambor em aglomerado de cortiça pintado e baquetas em madeira. Design: atelier Pedrita para Matéria
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Driften, banco em aglomerado de cortiça e carvalho. Design: Lars Beller Fjetland para Discipline. À venda na Nord
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Cork Family, mesas de apoio em cortiça. Design: Jasper Morrison para Vitra. À venda n´A linha da vizinha

Tacto e olfacto são as experiências sensitivas mais imediatas no contacto com a cortiça. E há o conforto, pela protecção do ruído e da temperatura.

A cortiça provém toda de montados mediterrânicos, e metade dela, de solo português. Por ser uma matéria-prima 100% natural, é biodegradável, reciclável e reutilizável. A sua extracção, o descortiçamento, é inócua para a árvore. Arrancada ao sobreiro a cada nove anos, pela força manual de um machado, a cortiça só poderá ser transformada em rolha com o terceiro descortiçamento, altura em que a sua estrutura já se apresenta regular. Dos dois primeiros (bem como de toda a casca retirada da base da árvore) resulta uma cortiça menos nobre, ainda pouco estruturada, que irá ser triturada. Depois pode ser moldada, prensada ou cortada, chegando até nós sob as mais variadas formas.

Já usada na Antiguidade por gregos, romanos e egípcios, a cortiça era usada para bóias de pesca, nas coberturas de habitações, como vedante das ânforas, no calçado e em ornamentos. As suas múltiplas propriedades fazem-na ser aplicada em variadas áreas, que vão desde a construção à aeronáutica, passando pelo vestuário e pela lista infindável de mobiliário e objectos de uso quotidiano.

A colecção Matéria, da corticeira Amorim, reúne um conjunto de objectos concebidos por designers que materializaram as várias qualidades desta matéria-prima. Gelo, o balde de gelo desenhado por Filipe Alarcão, para além da evidente associação à forma da rolha, reveste-se a cortiça, aproveitando o seu isolamento térmico e a capacidade deste material para se manter seco. Miguel Vieira Baptista usou um bloco de cortiça maciça comprimida por um aro metálico que funciona como rebordo da fruteira Aro. O impacto silencioso do tambor Rufo, desenhado pelo atelier Pedrita, torna-o o instrumento ideal para ser tocado a qualquer hora pelas mãos mais irrequietas. Também abordando o tema lúdico, o boneco de vudu Pino, de Daniel Caramelo, explora de forma irónica as potencialidades da “memória elástica” da cortiça ao espetar-lhe pioneses para afixar mensagens.

As propostas não vieram só de criadores portugueses. Do Nendo, o atelier japonês de Oki Sato, saíram a fruteira Parte, dividida em duas partes que se unem de duas formas pela força de um íman, e o saleiro/pimenteiro Par. Invertendo a relação entre o contentor, de vidro, e o vedante, Par tem a rolha na base, tornando-a o elemento de primeiro contacto táctil. O estúdio Big Game, de Lausanne, põe a cortiça a flutuar no barco Bote.

Elegendo também a cortiça como matéria-prima, o norueguês Lars Beller Fjetland desenhou alguns objectos lançados pela marca italiana Discipline. Um dia, Lars observava os objectos que o oceano trazia para a costa. Os mais abundantes eram a madeira desgastada pelo mar e pedaços de cortiça de formas irreconhecíveis; materiais naturais que regressavam à terra. Deste conceito nasceu o banco Driften (a flutuar), numa relação funcional entre o macio e o conforto da cortiça no assento e a robustez da estrutura de madeira. Pianissimo, o candeeiro de tecto também resultado desta parceria, usa a cortiça não só como elemento decorativo que envolve uma base de vidro como se apropria da capacidade de isolamento acústico para contribuir para um ambiente confortável. Outro exemplo europeu é a Family Cork, um conjunto de mesas de apoio desenhadas por Jasper Morrison para a marca suíça Vitra. Tirando partido da leveza e resistência do material, esta famíla desloca-se facilmente no espaço doméstico.

Com aplicações mais ou menos funcionais, mais ou menos decorativas, a cortiça evoca sempre o elemento que a precede; a paisagem do montado mediterrânico.

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