Pais de crianças assassinadas contra nomeação de documentário aos Óscares

Foto
os realizadores com Damien Echols no "corredor da morte" em 2009 DR/Bob Richman

Os pais de dois dos três rapazes assassinados em 1993 nos Estados Unidos escreveram uma carta aberta contra a nomeação aos Óscares de “Paradise Lost 3: Purgatory” na categoria de melhor documentário.

O filme, realizado pela dupla Joe Berlinger e Bruce Sinofsky, é o terceiro de uma série que documenta o assassinato e o julgamento deste caso, que culminou com a libertação dos suspeitos em Agosto do ano passado.

Em 1993 três rapazes de oito anos, Michael Moore, Stevie Branch e Christopher Byers, foram assassinados no Arkansas, e em 1994, Jason Baldwin, Jessie Misskelley e Damien Echols, que ficaram conhecidos como os “West Memphis Three” foram condenados, acusados pela morte das crianças num ritual satânico.

Jason Baldwin e Jessie Misskelley, que na altura tinham apenas 16 anos, foram condenados a prisão perpétua, e Damien Echols, que tinha 18 anos, foi condenado à morte. Mas ao longo dos anos foram surgindo incongruências na investigação e a defesa dos jovens provou mesmo, através de testes forenses, que o ADN encontrado nas vítimas não correspondia a nenhum dos três. Depois de muitos apelos à inocência dos três homens, ao qual se juntaram caras tão conhecidas como o actor Johnny Depp ou o músico Eddie Vedder (Pearl Jam), os “West Memphis Three” foram libertados em Agosto de 2011.

“Paradise Lost 3: Purgatory”, que teve estreia mundial no Festival de Cinema de Nova Iorque, acompanha esta última jornada da investigação e já foi transmitido na televisão norte-americana, HBO.

Mas para os pais dos rapazes assassinados, a nomeação do documentário aos Óscares é a coroação e a glorificação dos homens acusados do assassinato, não escondendo a desilusão pela escolha.

Na carta de três páginas enviada à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, os pais dizem estar tristes e sentirem-se ultrajados. “Este filme devia ser apresentado como uma fraude, e não ser premiado com uma nomeação pela Academia”, cita a BBC.

Em 1996, apenas dois anos depois da condenação dos três jovens, saiu o primeiro documentário, que levantava já algumas dúvidas em relação à investigação do caso. Uma das questões levantadas neste filme, e que maior polémica causou na altura, era se o padrasto de uma das crianças, Terry Hobbs, que também assina esta carta, não poderia ser o assassino.

“Eles [realizadores] agora dizem que estão à procura dos verdadeiros assassinos dos nossos filhos, mas parece-nos pouco provável que isso aconteça enquanto estão a realizar filmes, a viajar pelo mundo e a festejar com estrelas rock”, continua a carta, que pede que a Academia reveja esta nomeação. “Enquanto isso, os nossos filhos continuam mortos.”

A Academia ainda não fez qualquer comentário em relação a este pedido mas o realizador Joe Berlinger explicou à AP que não está contra as famílias das vítimas. “Nós acreditamos que a nossa procura pela verdade tem sido a melhor forma de honrar a memória das vítimas deste crime inimaginável e o nosso coração está com aqueles que nos têm criticado”, disse o realizador, explicando que quando começaram a trabalhar no documentário pensaram estar a contar a história de três adolescentes culpados, mas com o decorrer da investigação perceberam que os jovens não tiveram sequer um julgamento justo, o que levou a que Joe Berlinger e Bruce Sinofsky se empenhassem ainda mais no caso.

“Paradise Lost 3: Purgatory” está na corrida à estatueta de melhor documentário ao lado de "Pina", "Hell and Back Again", "If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front" e "Undefeated.

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