Os números da música

A cultura, neste caso a música, não serve apenas para fazer “abanar o esqueleto”, mas para dar, ano após ano, ritmo a uma economia.

Decorria o ano de 1960, e numa fria e distante capital do norte da Europa era criada uma nova universidade. Nos “laboratórios” deste centro de conhecimento eram feitas as primeiras experiências e davam-se os primeiros acordes rumo à criação de alguns dos maiores nomes da música moderna.

Estamos a falar do SMI Stokolms Musikpedagogiska Institut de Estocolmo, na Suécia, que foi a primeira universidade privada orientada para a música moderna e comercial na Suécia continuando o trabalho realizado nas escolas públicas de música as Kommunala Musikskolan. Isso foi o princípio: o país rendeu-se à música moderna comercial. Ao longo de 55 anos, e de um investimento anual de cerca de 116 milhões de euros, saíram daquele “laboratório” nomes como os ABBA, Roxette, Europe, Yngwie Malmsteen, Swedish House Mafia, The Cardigans, Avicii, Eagle Eye e Neneh Cheerie, Keith Moon (The Who), Andreas Johnson, Lisa Ekdahl, Jonas Hellborg, Arch Enemy, Meshuggah e mais recentemente, Tove Lo. Noutro campo, Max Martin compositor para Britney Spears, Taylor Swift, Katy Perry, Pink, Usher, Backstreet Boys e ‘N Sync ou RedOne compositor para Nicki Minaj, Lady Gaga, Pitbull e One Direction, também dão retorno. Estes nomes que cito são apenas alguns dos muitos que fizeram, e fazem, furor pelos quatro cantos do mundo. Mas, mais do que furor, estes nomes contribuem para o Produto Interno Bruto daquele país, e não é pouco. A Suécia é o país no qual o volume de exportação de música tem mais peso no PIB a nível mundial. Com 52 mil entradas de música feitas por suecos em tabelas de vendas por todo o mundo, esta indústria apresenta um retorno anual direto de 675 milhões de euros. Estes valores não representam quantitativamente todas as externalidades positivas que são replicadas com a criação de emprego em estúdios, escolas, lojas de música, eventos, editoras, etc.. a cultura, neste caso a música, não serve apenas para fazer “abanar o esqueleto”, mas para dar, ano após ano, ritmo a uma economia. Contas feitas: Investem 116 milhões por ano e recebem quase 1000 milhões. Parece ser um bom negócio!

E Portugal? Que andamos nós a fazer pela nossa música moderna? Na realidade… vejamos: Portugal não tem Ministério da Cultura, apenas um Secretário de Estado. Não há quem saiba fazer? Seria possível mudar a estratégia? Não há quem saiba compreender e apoiar o novo modelo de negócio para o sector? Acima de tudo, falta vontade em criar as condições para que a música contribua para a riqueza do país e deixe de ser uma atividade residual e inconsequente para as contas do país. Falta vontade para que a cultura ajude a cimentar a marca Portugal. Assim, como na maioria dos casos, temos um mercado importador.

E se existisse uma aposta no ensino oficial de música moderna e comercial em Portugal como se fez na Suécia ou no Canadá e há uma década na Coreia do Sul? Qual seria o retorno após 25 anos de investimento? Que projetos teriam aparecido? Que artistas nacionais teriam vingado internacionalmente e ocupado os tops mundiais? Quais seriam os valores do produto sectorial da Indústria Musical Portuguesa? Quantos empregos diretos e indiretos teriam sido gerados? Bandas e artistas, composição e músicos de sessão, ensino e formação, estúdios, organização de eventos, instrumentos e lojas de música, editoras, promotoras, investigadores, tecnologia, multimédia, jornalismo especializado, turismo, etc... Quanto representariam as vendas de música moderna nacional nas nossas exportações? Os 16 milhões de euros de vendas diretas da indústria nacional seriam 450  milhões de euros (pouco mais de metade do mercado sueco) neste "universo paralelo", com mais 200 a 250 milhões gerados pela atividade indireta. Estes valores representariam um valioso acréscimo ao PIB Nacional. Representariam.

Director da Escola de Música EMMA

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