Os Maias: efeitos culturais

A reivindicação do realizador sobre a capacidade de o filme falar sobre hoje transformou-se em caução cultural, e amansa qualquer confronto mordaz dentro da sala.

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Trailer Os Maias

João Botelho instala-se no território do “cinema de prestígio”: os telões pintados em background são pequenos acontecimentos em si, “efeitos culturais”.

Os Maias está longe da tensão de Conversa Acabada (1980), Um Adeus Português (1985) ou Tempos Difíceis (1987), por exemplo, que eram filmes que também falavam de “nós, hoje” mas com uma rugosidade altiva (postura nada contraditória com a tristeza que circulava neles) que não tinham contemplações. Já nesta adaptação da obra de Eça, o espectador nunca vê o seu conforto ameaçado – mesmo que supostamente esteja a olhar-se ao espelho, nunca vai lá encontrar nada de lúgubre.
Ir aos Maias torna-se, por estes dias, um ritual autocelebratório. A reivindicação do realizador sobre a capacidade de o filme falar sobre hoje transformou-se em caução cultural, o que amansa qualquer confronto mordaz dentro da sala. Num conjunto de interpretações middle of the road, até há uma espécie de compère de revista, João da Ega/Pedro Inês, de cuja audácia o filme se aproveita (mais do que) o necessário para confortar as expectativas do espectador. É como se o cinema de Botelho fizesse também uma adaptação pitoresca de si próprio.
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