Os livros dos dedos

Não há nada que anime tanto como uma pechincha inesperada.

Quanto mais livros se encomendam pelo correio, maior é o prazer de ir a uma garagem e comprá-los em segunda mão. Pela internet os portes são consideráveis e as entregas são morosas. O único prazer que há é chegarem os livros depois de nos termos esquecido deles.

Numa loja de segunda mão - onde os livros não são escolhidos pelo proprietário - nunca se sabe o que se vai encontrar. É raro haver qualquer arrumação: é preciso ver os livros um a um.

Como são muito baratos (algumas lojas de velharias cobram o mesmo preço por todos) compramos livros que jamais compraríamos: edições curiosas em línguas incompreensíveis; manuais de pesca à truta dos anos 50; biografias de pessoas de que nunca ouvimos falar; álbuns de fotografias acintosamente mal impressas e panfletos inflamados sobre assuntos que nos deixam indiferentes.

A desarrumação aguça-nos o espírito de detecção: há sempre um ou dois livros que desejávamos ter há muito tempo. Não há nada que anime tanto como uma pechincha inesperada: melhor, só roubando.

Ajuda uma certa histeria. Se os livros estão todos a um euro, por exemplo, é melhor, por uma questão de rapidez, dada a concorrência de outros clientes, juntar todos os que têm um mínimo de interesse, comprá-los, levá-los para casa e, só quando se está confortavelmente sentado com os livros empilhados à nossa frente, proceder à selecção digna do nosso discernimento e das nossas pancas.

Há adrenalina. Há aventura. Há surpresas. E livros!

Sugerir correcção
Comentar