One Direction e a primeira experiência de perda

Os fãs dos One Direction agitam as redes sociais.

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Fãs no concerto do Porto no ano passado Paulo Pimenta
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Zayn Malik

Quarta-feira e quinta-feira, as redes sociais encheram-se de desabafos de adolescentes e de relatos de automutilação depois de se saber que Zayn Malik iria deixar os One Direction, a conhecida boy band britânica, que se transformou no fenómeno mais conhecido dos últimos anos dentro do género.

No fim de contas nada de novo neste tipo de acontecimentos, embora quando eles sucedem nos pareçam inimagináveis. O canal de TV CNN chegou ao ponto de criar um manual de sobrevivência, entre o sério e o divertido, destinado aos pais de adolescentes que possam estar a sofrer com a situação.

A ideia é consciencializarem os filhos de que a saída de Zayn Malik foi opção sua, mas ao mesmo tempo é recordado que não se devem subestimar as emoções impulsivas dos fãs nestas alturas. Faz sentido. Para muitos será a primeira experiência de perda.

Como acontece sempre também neste tipo de fenómenos existe quem aproveite para satirizar o comportamento dos fãs, apresentando-os como sintoma de um mundo doentio. Noutro sentido vão os que defendem que, no universo normativo de hoje, constituiu um bálsamo existirem fãs e com eles fervor, paixão, histeria, honestidade misturada com alguma irracionalidade. Sem eles seria tudo mais cínico, argumentam.

Os fenómenos de identificação obsessiva entre boy band e fãs são antigos, com inúmeros exemplos de colectivos (dos New Kids On The Block nos anos 1980 aos Take That nos anos 1990) que apelam ao mercado pré-adolescente e adolescente.

Como aconteceu agora, também no caso dos Take That, um belo dia um dos seus membros mostrou sinais de “ansiedade”, de saturação pela pressão mediática e até de alguma revolta, dizendo-se manipulado financeiramente pelos agentes que geriam a carreira do grupo, acabando por sair: Robbie Williams.

Depois vieram as Spice Girls que no final dos anos 1990 tinham construído um verdadeiro império, naquele que constituiu o exemplo supremo da fabricação de um fenómeno. Mais tarde a pop ligeira para consumo massificado estilhaçou-se, alimentando-se de programas de TV como Ídolos, Academia das Estrelas e tantos outros - os One Direction saíram exactamente de um desses concursos de talentos, The X Factor. No fim de contas todos esses colectivos correspondem a um formato que a partir de determinada altura entra em erosão e é substituído por outros.  

A saída de Zayn Malik não significa o fim dos One Direction. Mas para já é motivo de sofrimento para os fãs mais empenhados, motivo de gozo para os que revelam desdém por este tipo de acontecimentos e de preocupação para alguns pais que vêm os filhos manifestarem-se de forma inesperada.

Quando Robbie Williams abandonou os Take That, ou Geri Halliwell deixou as Spice Girls, não foi muito diferente. Não estávamos na era Twitter e Facebook, não existia uma Internet com possibilidade de interacção instantânea, por vezes criando mais comunicação, outras vezes apenas alguma confusão. Hoje a Internet ainda está a arder por causa de Zayn Malik. Amanhã se verá.

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