Os Caça-Pacmen

Curto e mal amanhado: com o culto dos anos 80 sempre em fundo (sobretudo na selecção musical), Pixels são dois filmes a acotovelarem-se sem se acomodarem ou resolverem.

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Pixels: o Marte Ataca! de Tim Burton é mil vezes mais delirante DR

Pelo menos para quem era miúdo no princípio dos anos 80, época das primeiras consolas e do ZX Spectrum, a ideia de base de Pixels contém alguma promessa: uma evocação dos primeiros “clássicos” dos jogos “electrónicos” (como então se dizia), os Pac-Man, Space Invaders e afins, entretanto tornados também, e propriamente, referências “culturais”.

Ou armas de guerra: Pixels conta como uma civilização extra-terrestre, interpretando mal uma daquelas cápsulas cheias de boa vontade lançadas para o espaço desconhecido, tomou o Pac-Man como um insulto e declarou guerra à Terra com as mesmas armas – os “invasores do espaço”, em sentido literal. Depois tudo sai curto e mal amanhado. Com o culto dos anos 80 sempre em fundo (sobretudo na selecção musical), Pixels são dois filmes a acotovelarem-se sem se acomodarem ou resolverem, cada um por si, da melhor maneira: por um lado a grande farra referencial, que acaba por ser dizimada porque o departamento de efeitos especiais não resiste (bruxo) ao upgrade exibicionista, matando o sabor retro que a coisa poderia ter, e porque no fundo, independentemente disso, nunca se vai muito longe (o Marte Ataca! de Tim Burton, que se jogava com coordenadas semelhantes a partir de um imaginário diverso, é mil vezes melhor e mais delirante); por outro, a habitual comédia de Adam Sandler, regressiva, indolente e nerd, perfeitamente adequada à “guerra de brinquedos” com que tem que lidar mas totalmente incapaz de a tomar para além do seu valor facial.

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