Odisseia de luxo

O hip-hop de Oddisee é uma odisseia de luxo pelo oceano sem fundo do passado da música negra

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Rap, metais, luxo e aquele 

flow

 — é uma estreia para não esquecer, a de Oddissee em 

The Good Fight

. Façam o favor de avançar até à 12.ª faixa, 

Meant it when I said it

: guitarrinhas afunkalhadas, bateria clássica, 

scratch

 e um jeito danado para colocar as sílabas nos intervalos certos, enquanto vagas de Wurlitzer desabam em fundo. Ah, que delícia! E depois, no refrão, cuidado com os diabetes quando entram os metais. 

É impressionante o feito do rapaz: em cada faixa bastam uma base rítmica, uma melodia instrumental, um arranjo inesperado (mas sempre ancorado na tradição da soul e do funk) e aquele flow. Em Want something done, a batida é rainha — se bem que o piano traz ameaça; Counter-clockwise é indescritível: batida com xilofones (xilofones?) e coros de soul melosa em fundo; chega-se a First choice e leva-se com um refrão gigante. As batidas enormes, propulsoras de movimentos involuntários dos ombros, continuam numa sequência impressionante: em Belong to the world servem para contrabalançar a melancolia; em A list of withouts são old-school e pesadas. Quando se chega a Meant it when I said it, estamos rendidos com a percentagem de soul, metais e mel a derreter no flow de rimas que ocupa The Good Fight. O hip-hop há muito que deixou de ser uma batida e uma rapadela. Agora pode dar-se ao luxo de ser uma odisseia de luxo pelo oceano sem fundo do passado da música negra

Meant it when I said it
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