O suicídio de Stefan Zweig, 70 anos depois

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A nota com que o escritor austríaco pôs “fim à vida no momento certo” pode ser lida no portal da Biblioteca Nacional de Israel

A carta em que justificou a sua decisão de pôr cobro à vida pode agora ser lida no portal da Biblioteca Nacional de Israel

"Envio saudações a todos os meus amigos: que eles possam viver para ver a aurora após esta longa noite. Eu, que sou demasiado impaciente, vou à frente". Com estas palavras, escritas horas antes de se suicidar no Brasil, se despedia, há 70 anos, o escritor austríaco Stefan Zweig. A carta em que justificou a sua decisão de pôr cobro à vida pode agora ser lida no portal da Biblioteca Nacional de Israel, que, para assinalar o aniversário do duplo suicídio de Zweig e da sua mulher, Lotte Altmann, digitalizou o documento original, a par de algumas cartas que o romancista e biógrafo trocou com figuras célebres da sua época, como Albert Einstein ou Sigmund Freud.

Nascido em Viena em 1881, numa abastada família judaica, Zweig era, nos anos 20 e 30 do século passado, um dos mais populares autores europeus: na sua qualidade de ficcionista, mas talvez ainda mais enquanto biógrafo. Escreveu sobre a vida e obra de muitos escritores - Dickens, Tolstói, Dostoiévski, Hölderlin, Nietzsche, Balzac, Stendhal, entre outros -, mas também se interessou por figuras históricas como Maria Stuart, rainha da Escócia, ou o navegador português Fernão de Magalhães.

Quando Hitler chega ao poder na Alemanha, em 1933, a influência dos nazis rapidamente se faz sentir na Áustria. No dia 18 de Fevereiro de 1934, a polícia faz buscas em casa de Zweig, a pretexto de que este ocultaria armas. O episódio convence o escritor a deixar Viena. Dois dias depois já está em Londres com Lotte Altmann. Quando rebenta a guerra e os nazis invadem a França, Zweig acha melhor aumentar a distância e emigra para os Estados Unidos. Em Agosto de 1942, o casal muda-se mais uma vez, desta feita para o Brasil, instalando-se em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

É aqui que Zweig, no dia 22 de Fevereiro de 1942, escreve a sua carta de despedida, redigida em alemão, mas com o título "Declaração", em português, para que não escapasse às autoridades brasileiras. Explica que se sente bem no Brasil, mas que "começar tudo de novo aos 60 anos requer poderes especiais" de que já não dispõe, pelo que prefere "pôr um fim à vida no momento certo". Stefan Zweig e a mulher foram encontrados mortos na tarde do dia seguinte, deitados um ao lado do outro. Tinham ingerido uma dose fatal do barbitúrico Veronal e crê-se que terão morrido pouco depois da meia-noite. O médico judeu alemão ao qual as autoridades brasileiras recorreram para traduzir a carta veio mais tarde a adquiri-la a um polícia reformado, tendo-a finalmente doado, em 1991, à Biblioteca Nacional de Israel.

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