O regresso de uma colecção histórica da poesia portuguesa, com dedicatória a Ângelo de Sousa

Colectânea de homenagem póstuma ao artista é o 83.º volume da O Oiro do Dia, pela qual passaram, nos anos 70 e 80, muitos dos mais relevantes poetas portugueses.

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O novo volume da colecção O Oiro do Dia é uma homenagem póstuma a Ângelo de Sousa NELSON GARRIDO
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A edição, de 250 exemplares numerados, mantém o grafismo idealizado na década de 70 por Armando Alves

A colectânea 20 Poemas para Ângelo de Sousa, homenagem da editora Modo de Ler ao artista plástico desaparecido em 2011, marca simultaneamente o regresso da histórica colecção O Oiro do Dia, pela qual passaram, nos anos 70 e 80, muitos dos mais relevantes poetas portugueses da segunda metade do século XX.

A presente edição, de 250 exemplares numerados, mantém o grafismo idealizado nos anos 70 por Armando Alves: as célebres plaquetes de capa cor-de-laranja, com os poemas impressos em cadernos soltos de 16 páginas no interior e uma pintura ou desenho em hors-texte. Neste caso, uma pintura do próprio Ângelo de Sousa, que acompanha os poemas que lhe são dedicados por 20 autores.

Embora este volume se assuma como o início de uma “nova série”, ostenta o número 83, já que o editor da Modo de Ler, José da Cruz Santos, decidiu prosseguir a numeração que vinha do tempo das suas duas anteriores editoras: a Inova, onde esta colecção nasceu em 1977, e a posterior O Oiro do Dia. O título da colecção e da extinta editora é retirado de um breve poema de Eugénio de Andrade: “Colhe/ todo o oiro do dia/ na haste mais alta/ da melancolia”. O poeta de As Mãos e os Frutos foi presença habitual nestas plaquettes, onde publicou a antologia Chuva Sobre o Rosto, o seu Requiem para Pier Paolo Pasolini, a primeira edição conjunta dos Primeiros Poemas, ou os Epitáfios de Agosto, com poemas em memória de Jorge de Sena e Ruy Belo. Dois poetas que, aliás, também passaram pela colecção, o primeiro com Sobre Esta Praia… Oito Meditações à Beira do Pacífico e o segundo com Despeço-me da Terra da Alegria.

A lista de poetas que integra o catálogo desta colecção inclui ainda, e para citar apenas alguns autores de diferentes gerações, Egito Gonçalves, António Ramos Rosa, Fernando Guimarães, José Bento, Fernando Assis Pacheco, Fiama Hasse Pais Brandão, Armando Silva Carvalho, A. M. Pires Cabral, Gastão Cruz, Vasco Graça Moura, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Manuel Magalhães, Nuno Júdice ou Fernando Guerreiro.

Vários números foram dedicados a poetas estrangeiros, a começar pela plaquette Dezassete Sonetos de Shakespeare, que marcou, em 1977, a estreia como tradutor de Vasco Graça Moura. Este traduzirá mais tarde outros autores para esta colecção, como Rainer Maria Rilke ou H. M. Enzensberger. García Lorca e Yannis Ritsos, traduzidos por Eugénio de Andrade, S. João da Cruz, António Machado e Luis Cernuda, por José Bento, Vladimir Holan, por Luiza Neto Jorge, Dylan Thomas, por Fernando Guimarães, Paul Celan, por João Barrento e Yvette K. Centeno, William Blake, por Gastão Cruz, Odysseus Elytis, por Mário Cláudio, ou Paavo Haavikko e Geo Milev, por Egito Gonçalves, são outros poetas divulgados na O Oiro do Dia. E João Barrento publicou ainda aqui duas importantes antologias de poesia alemã contemporânea, então praticamente desconhecida em Portugal.

Os agora lançados 20 Poemas para Ângelo de Sousa retomam também uma tradição desta colecção: os volumes colectivos de homenagem, uns prestando tributo a poetas, como os dedicados a Eugénio de Andrade ou Ruy Belo, outros a figuras que o editor José da Cruz Santos presumivelmente admiraria, como Vasco Gonçalves. 

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