O pós-pós-pós-western

Um western apenas no sentido gráfico do termo: puro exibicionismo.

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A Caminho do Oeste: pavonear uma pobre ideia de “estilo” DR

Apesar dos periódicos anúncios de ressurreição, por regra algo exagerados, o western, enquanto género corrente (e “popular”), está mais que morto – que o diga Clint Eastwood, que lhe assinou o epitáfio com o Imperdoável de há vinte e tal anos e nunca mais lá voltou.

Existe, isso sim, enquanto território evocativo e referencial, bem a calhar para experiências arty. É esse tipo de exibicionismo que domina a estreia de John MacLean (ex-músico dos The Beta Band) na realização, com este A Caminho do Oeste que traz a auréola da consagração “independente” no festival de Sundance. Nenhuma espécie de relação com o western clássico, como se o diálogo já só se pudesse manter com o western tardio, quer dizer, o de Peckinpah em diante: a maneira de “coreografar” a violência e a mortandade sugere que essa é uma das referências de Maclean, mas sem nenhuma da gravidade da melancolia do velho Sam, muito menos da sua insolência. Se a estrutura – uma viagem, um miúdo protegido por um homem mais velho, e toda a sorte de encontros – não foge muito à tradição, Maclean enche-a de pompa e de efeitos “artísticos” que tomam o lugar de uma dramaturgia crente no que está a narrar, e de umas quantas tiradas e alusões ao carácter “mestiço” da América. E aí, é impossível deixar de pensar em A Caminho do Oeste como numa versão menoríssima do Homem Morto de Jim Jarmusch, esse filme que usava a indumentária do western para fazer reflectir o carácter compósito da origem e da identidade americanas. E fazia-o a sério, enquanto o filme de John Maclean se limita a pavonear uma pobre ideia de “estilo”, no sentido meramente gráfico do termo: talvez lhe devamos chamar o pós-pós-pós-western

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