O “passeio dos museus” de Madrid vai ter novo inquilino

Arquitecto e designer argentino-espanhol quer levantar um Museu das Artes da Arquitectura, Desenho e Urbanismo.

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O projecto do novo museu é do arquitecto Emilio Ambasz DR

O título desta notícia deveria ter um ponto de interrogação. É que, apesar do acordo assinado em Março entre o município de Madrid e o arquitecto e designer argentino-espanhol Emilio Ambasz (Resistencia, 1943), não é ainda totalmente seguro que a capital espanhola vá mesmo ter, dentro de pouco mais de um ano, como prometido, um Museu das Artes da Arquitectura, Desenho e Urbanismo.

A criação de um Museu Nacional de Arquitectura em Madrid já vem de trás, e de governos (nacionais e locais) anteriores ao actual mandato do Partido Popular (PP). Mas a crise económica levou ao adiamento deste projecto apadrinhado pelo Colégio Oficial de Aquitectos espanhol.

Foi neste vazio que, há cerca de três anos, entrou em cena Emilio Ambasz, arquitecto com obra principalmente realizada em países americanos, actividade docente em universidades na Alemanha e nos Estados Unidos – onde foi também curador do Departamento de Arquitectura e Desenho no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque. E, ao que parece, uma fortuna também angariada com o seu trabalho como designer, domínio em que, desde os anos 80, registou inúmeras patentes.

Com o dinheiro e o acervo reunido ao longo da sua carreira, Emilio Ambasz “ofereceu” a Madrid um Museu das Artes da Arquitectura, Desenho e Urbanismo, para o qual desenhou o projecto de um edificio que ele próprio pagará e se compromete a gerir (e continuar a pagar) nas próximas décadas.

O jornal El País explica que a colecção e o projecto de Emilio Ambasz foram também disputados por cidades como Buenos Aires, Nova Iorque, Paris e Florença. O arquitecto optou por Madrid, e a actual presidente da autarquía, Ana Botella (PP), não quis desperdiçar a oportunidade: assinou um acordo com Ambasz, aprovou o seu projecto e destinou-lhe um velho edificio em pleno “passeio dos museus”, em frente ao Prado, a pouca distância do Thyssen-Bornemisza e do Caixa Fórum, e também não muito longe do Reina Sofia.

É aqui que surgem as dúvidas relativas à concretização do projecto. É que a decisão política da câmara de ceder o espaço no número 30 do Passeio do Prado implicou a desclassificação patrimonial do edificio aí existente – um prédio de cinco pisos em tijolo vermelho inaugurado em 1932.

Para além de manifestar dúvidas sobre a validade do projecto do novo edificio de Emilio Ambasz – um cubo com as fachadas exteriores inteiramente revestidas por vegetação, com um custo orçado em 13 milhões de euros –, o Colegio Oficial de Aquitectos tem vindo a questionar a desclassificação do velho edificio. A decisão final vai agora passar também pela Comissão de Protecção do Património Histórico. E a correlação das forças políticas que governam a capital espanhola não será certamente também exterior ao processo.

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