O pai tirano e a abelha-mestra

A história é menos interessante que o tratamento, mas Alice Rohrwacher sabe muito bem o que está a fazer.

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A italiana Alice Rohrwacher tem um verdadeiro talento de criadora de imagens e de directora de actores – vê-se no modo como esta sua segunda realização se inscreve de modo pessoal e autónomo numa nobre linhagem do cinema transalpino.

É um filme literalmente “à flor da pele”, que se cola aos corpos e aos rostos dos seus actores (mas sem nunca os assoberbar à la Dardenne), que lhes dá todo o tempo e todo o espaço para construírem as suas personagens. É pena que essa sensibilidade, e a atracção de Rohrwacher pelas histórias de adolescentes em transição, se perca depois numa trama extremamente previsível, à volta de uma família de apicultores liderada por um “pai tirano” nos confins da Etrúria e da super-responsável filha mais velha na fronteira da idade adulta – tornando O País das Maravilhas numa espécie de “inversão rural” do Reality de Matteo Garrone, ou numa leitura caseirinha do apocalíptico Noé de Darren Aronofsky.

Em qualquer caso, o que aqui se vê é suficientemente conseguido para esperar muito desta jovem realizadora.


 

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