O mundo mágico da Fada Oriana

O ambiente encantatório d' "A Fada Oriana" sobe hoje à cena pela mão da Academia Contemporânea do Espectáculo/Teatro do Bolhão, no Porto. O conto de Sophia de Mello Breyner Andresen é a base de um espectáculo que cruza várias linguagens artísticas, numa encenação inusitada de Joana Providência.

Quem não se lembra de Oriana, a fada boa que curava árvores adoentadas e ajudava gentes pobres? Vivia numa floresta, passava dias inteiros a trabalhar - a levar a velhinha cega à cidade, a limpar a casa do moleiro e dos seus onze filhos, a visitar o poeta, a única pessoa crescida a quem podia aparecer, a mimar as plantas...

"A Fada Oriana", tal como "A Menina do Mar" ou "O Rapaz de Bronze", faz parte do imaginário dos que leram os livros de Sophia. A coreógrafa e encenadora Joana Providência pegou na história para a recolocar num outro universo. O universo do teatro contemporâneo, que aqui cruza marionetas, sombra, vídeo e actores de carne e osso.

Há a mensagem ecológica, que cada vez mais se impõe propagar. Um sublinhar da responsabilidade partilhada pelo bem-estar do ambiente, salienta o produtor Pedro Aparício. Mas "A Fada Oriana", diz ainda, é também uma história sobre a construção do ser.

Graças a um peixe elogioso, Oriana viu a sua imagem reflectida no espelho e ficou deslumbrada. Em vez de ajudar os homens, os animais e as plantas, como lhe competia, deu-lhe para gastar horas a colher flores para se enfeitar e outras tantas a admirar a sua própria beleza. Por castigo, a rainha das fadas tirou-lhe as asas e a varinha de condão. E, sem cuidados, a floresta secou, os animais fugiram para os montes e os homens para as cidades, onde se perdiam no labirinto das ruas.

Oriana esquece-se do mundo quando toma consciência do seu corpo, volta a valorizar o mundo quando encontra o "eu". "O teu dó pela tua amiga foi tão grande que nem te lembraste de ter medo", diz-lhe a rainha das fadas, quando lhe aparece como se fosse um relâmpago para lhe devolver as asas e a varinha. "Asas, asas, ai minhas asas!", celebra a pequena. O fim tinha de ser de reconciliação, não fosse a poética de Sophia repassada de claridade.

Esta é a primeira incursão da companhia Academia Contemporânea do Espectáculo/Teatro do Bolhão no universo infanto-juvenil. Esta estrutura de produção - que se estreou o ano passado com "A Resistível Ascensão de Arturo Ui", de de Bertolt Brecht - não procura uma linha estética rígida. Associada a uma escola, tenta "mostrar que há diversos caminhos". Tanto que a próxima produção será "Quem Tem Medo de Vírginia Wolf" de E. Albee, um texto denso com encenação de João Paulo Costa, que partilha a direcção artística da companhia com Joana Providência e António Capelo.

Com interpretação de Anabela Sousa, Sandra Salomé, Clara Ribeiro e Filipe Alexandre, "A Fada Oriana" apresenta-se como um espectáculo capaz de agradar às mais diversas idades. A magia acontece. Pelo forte dispositivo plástico, pelos jogos de luz, pela música que funciona como uma partitura contínua e pelo próprio redescobrimento de Oriana - que vai desabrochando, graças também às artes de contador do velho carvalho.

O espectáculo transita depois para o Teatro Municipal de Bragança (14 a 16 de Março). Viaja, de seguida, para o Serviço Educativo do Centro Cultural de Belém (21 e 28 de Março). E volta ao Porto, já em Abril (20 a 27).

"A Fada Oriana"

De Sophia de Mello Breyner Andresen

Pela Academia Contemporânea do Espectáculo/Teatro do Bolhão

PORTO Auditório da Academia Contemporânea do Espectáculo. Pç. Coronel Pacheco, 1. Tel.: 222089007. Estreia-se hoje, às 21h30. De 7 a 11 de Março, às 10h30 e às 15h30.

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