O melhor crítico

As críticas são como as cerejas, mas os livros, não sendo de graça, são melhores ainda.

William Logan é um crítico de poesia que se lê por prazer. Insulta e desabafa. Aponta para os desastres. Soletra, repugnado, os versos mais nauseabundos.

Vinga-se do que perdeu tempo a ler. É salutarmente venenoso. Mesmo com os poucos poetas recentes que admira (os melhores, não por acaso) faz questão de mostrá-los quando falham.

Logan também é poeta e professor. Conhece bem a poesia de língua inglesa, sabe escrever poemas decentes e é capaz de se dar ao trabalho de verificar os manuscritos para denunciar a transcrição defeituosa de uma edição crítica publicada por uma editora considerada fiável, como a Harvard University Press.

É corajoso, claro, faccioso, misantrópico, cínico e outros maus adjectivos bons. Mas a melhor coisa de todas é que escreve bem, com tanta exigência como inteligência e tanta maldade como sinceridade.

É mentira que só deita abaixo. É essa a propaganda que os muitos inimigos (quase todos os poetas e críticos) espalham quando não funciona a muralha oportunista de silêncio que ergueram à volta dele. William Logan é, não tanto no fundo como logo à superfície, um apologista da poesia grande, seja qual for o tempo - ou o esquecimento - dela.

As críticas (no site da New Criterion) são como as cerejas, mas os livros, não sendo de graça, são melhores ainda. Comece por estes dois: Guilty Knowledge, Guilty Pleasures: The Dirty Art of Poetry, de 2014 e The Undiscovered Country: Poetry In The Age of Tin, de 2005.

Que alívio!

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