O erro da empatia

Wittgenstein não era tanto um filósofo genial com um génio que era filosófico: não havia lição.

Wittgenstein mostrou que era impossível falar da dor que outra pessoa sente por ser impossível senti-la. Não mostrou por A mais B. Nem mostrou usando lógica. Mostrou pensando intensa, sincera e claramente sobre a possibilidade de uma pessoa ser capaz de sentir a dor de outra pessoa.

Não há. Não é. Eu posso descrever a dor de outra pessoa, tal como se apresenta a mim. A pessoa descreve-a com estas palavras. Contorce-se. Grita. Bate com a cabeça na parede.

Para Wittgenstein a única explicação possível era a descrição. A descrição não era a melhor explicação. Nem sequer era uma explicação aceitável ou compreensível. Era a única.

Cada identidade (ou outra fragilidade parecida) que é individual, humana ou cultural depende fundamentalmente de si própria. Custa defini-la. Mas só quem assim se define é capaz de enfrentar essa dificuldade e superá-la, triunfando sobre o universalismo indolente e perigoso de acharmos que somos todos iguais.

Não somos. Cada um de nós acha-se diferente. E é provável que tenhamos todos razão. O melhor é não termos maneira de saber se estamos todos a perder tempo com questões que não só não temos tempo para considerar ou razão para as pormos de parte.

O erro da empatia é a promiscuidade com que se pensa que é fácil e benéfica. Precisamente: é benéfica sem ser fácil, como é muitas vezes desejável sem ser possível.

Wittgenstein não era tanto um filósofo genial com um génio que era filosófico: não havia lição.

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