O Bénard da Arrábida
Dou-me muito mal com a lembrança dos meus amigos que morreram. Estou sempre à espera de encontrá-los (nunca de reencontrá-los).
Quero ver o filme de Manuel Mozos sobre João Bénard da Costa, com o benardiano título: Outros Amarão As Coisas Que Eu Amei.
O doce artigo de Jorge Mourinha no PÚBLICO de anteontem trazia para o título um lamento do realizador: "Bénard da Costa era o professor que eu queria ter tido". A minha cabeça concordou e o meu coração percebeu, pouco antes de acrescentar "e que eu pensava que iria viver para sempre".
E aí chorei. Dou-me muito mal com a lembrança dos meus amigos que morreram. Estou sempre à espera de encontrá-los (nunca de reencontrá-los) e, quando não os encontro, que é todos os dias, entristeço e, sem consolo nenhum, amaldiçoo as contas da vida em que vivemos.
Não é só no Cinema, também com letra grande. É em cada ida e em cada passo da vida que me lembro dele e preciso de saber o que ele já sabe e ainda pensa do que passa por mim.
Li tudo o que ele escreveu (escrevia sempre a lutar, como quem quer reconciliar a saudade com a esperança) sobre a transcendente serra da Arrábida. E ouvi-o contar histórias maravilhosas – cheias de medos e de encantamentos súbitos – sobre as peripécias perigosas e deslumbradas que demonstraram a paixão dele pela Arrábida.
Esta semana voltei, depois de 50 anos de ausência, à Arrábida. Mais uma vez dei-lhe não só razão como coração e alma.
Releio o que escreveu. Mais uma vez vimos o mesmo filme: aquele que ele me ensinou a ver.
Mas onde está ele para eu lhe dizer? E ele para me contar?