O actor moribundo

O histrionismo descontrolado e a gritaria bigger than life de Pacino é praticamente o filme todo.

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Philip Roth podia ser – e é – um maná para actores de uma certa idade. Mas continua sem sorte nenhuma com as adaptações cinematográficas dos seus livros, mesmo quando eles atraem um certo actor, de certa idade (75 anos já…), chamado Al Pacino.

Porque Pacino, que foi – e é – um dos maiores actores da sua geração e uma presença crucial no cinema americano dos últimos quarenta anos, não é só a expressividade feita de rigor e interioridade (dos “Padrinhos”, por exemplo), tem um “lado B” feito de histrionismo descontrolado e gritaria bigger than life

É esse lado de Pacino que está em A Humilhação, o que até viria a propósito dado o facto de a sua personagem ser, também ela, um actor envelhecido, em crise, feito de uma mistura de vaidade e insegurança. E Pacino é o filme praticamente todo, sempre “em número”, em monólogos e em piscadelas de olho, e continua a ser o filme praticamente todo mesmo quando lhe salta ao caminho a miúda Greta Gerwig, para um affair tipicamente rothiano. <_o3a_p>

Barry Levinson, outrora célebre pelos Rain Man e quejandos mas ultimamente um bocado desaparecido (e no estado em que isto anda já nem sabemos dizer se isso é bom ou mau), assume plenamente a condição de tarefeiro ao serviço da grande vedeta, ele sim, Pacino, o verdadeiro “autor” do filme. Sai obra mole e desossada, muito aborrecida, e às vezes bastante irritante, mesmo se a vontade de “irritar” faz parte do jogo de Pacino. Resta dizer que este cruzamento entre “teatro” e “vida” (mais desarranjo psicológico) já foi explorado, com muito melhores resultados, pelo próprio Pacino e num filme que ele mesmo realizou nos idos de 90, Looking for Richard. Aqui tudo se passa como se ele apenas nos quisesse lembrar da sua existência. Que esteja descansado: de Pacino nunca nos esqueceremos. Deste filme, quanto mais depressa melhor.

 

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