Nunca houve tantas personagens LGBTQ na televisão americana

Estudo da GLAAD faz as contas nos canais abertos, de cabo e streaming e encontra um número recorde de gays, lésbicas, bissexuais, transgénero e queer.

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Nunca houve tantas personagens LGBTQ no horário nobre em sinal aberto dos EUA – e, por conseguinte, em grande parte da TV mundial e na portuguesa em particular. A percentagem é diminuta, 4,8%, mas a mais elevada de sempre para a Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD). Nos canais mais vistos, a representação de lésbicas diminuiu, a de bissexuais aumentou, há mais mulheres e mais diversidade racial.

O relatório Where We Are on TV, divulgado quinta-feira pela organização norte-americana de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e queer, mostra um avanço “encorajador”, como categoriza Sarah Kate Ellis, presidente da GLAAD, em comunicado, na representação LGBTQ na temporada televisiva de 2016/17. É um avanço que continua a colocar a televisão à frente do cinema americano, que em 2015 tinha apenas 17,5 % de filmes de grande orçamento com personagens LGBTQ segundo outro estudo da organização, mas há que continuar a lutar por “retratos mais diversificados e intrincados da comunidade LGBTQ”, defende Ellis.  

A GLAAD localizou 43 personagens regulares identificadas como LGBTQ nas séries com guião e a passar no horário nobre dos canais de televisão em sinal aberto nos EUA. Isto como parte de um total de 895 personagens. Juntam-se-lhes as personagens LGBTQ que integram séries de canais de televisão por subscrição – 92, contra as 84 da última temporada – e 28 personagens secundárias, que regressam para alguns episódios, nas séries dos generalistas e 50 no cabo.

O total: 71 personagens LGBTQ na televisão convencional, a que transmite séries como Empire ou Como Defender um Assassino (generalistas) em que há personagens LGBTQ, e 142 no cabo de séries como The Walking Dead, que na última temporada teve uma curta história que envolvia um casal lésbico, por exemplo. 

Estes são também os tempos de Transparent ou de Orange is the New Black. Nos novos produtores de televisão por streaming, como o Netflix, a Amazon e Hulu, onde vivem séries centradas em temáticas queer ou de género como Transparent ou com grande peso das mesmas como Orange is the New Black, há 45 personagens centrais e outras 20 ocasionais, num número que volta a ser uma subida em relação a 2014/2015 em que a GLAAD contabilizou 59.

Ainda assim, analisando os números por outro prisma, as plataformas supostamente mais conotadas com a diversidade pecam por falta no que toca à diversidade racial. “As plataformas de cabo e streaming ainda têm de incluir personagens LGBTQ mais diversificadas em termos raciais, já que a maioria das personagens fixas e regulares” nessas plataformas são brancas (os números ultrapassam os 70%). É nos generalistas que aumentou a diversidade racial, com 325 personagens não-brancas nos canais de sinal aberto, mais 3% do que há um ano.

As mulheres negras são menos representadas do que os homens, apesar de se ter atingido um “recorde” com 20% de personagens fixas nos canais abertos de raça negra. E também quanto às mulheres os canais generalistas se portam melhor: 44% das personagens fixas são mulheres, uma ligeira melhoria de 1% em relação ao ano passado. É um número que ainda assim está distante da paridade, quando, como assinala o relatório, “subrepresenta fortemente” as mulheres, que são “51% da população”.

Quanto às personagens transgénero nas televisões generalistas, são três, contra seis na TV por subscrição (cabo) e sete nos serviços de streaming (Transparent, por exemplo, é exibida em Portugal no canal TV Séries, já que a Amazon não opera em Portugal), detalha a organização. A representação das lésbicas diminuiu “drasticamente” na TV generalista (17% do total de personagens LGBTQ) e também recrudesceu (2%) na televisão por subscrição, onde as personagens bissexuais perderam também 3% da sua representação.

Porém, a bissexualidade é mais representada do que no mesmo período do ano passado no streaming e nos canais abertos, o que ainda assim é sujeito a análise mais fina porque não basta a representação, mas também ver o tipo de representação – “muitas destas personagens ainda recaem em estereótipos perigosos sobre bissexuais”.

Muitas mulheres da comunidade LGBTQ desapareceram na última temporada, “com personagem atrás de personagem a morrer, continuando a danosa metáfora ‘enterrar os gays’” que “transmite uma mensagem perigosa de que as pessoas LGBTQ são secundárias e descartáveis”, diz Ellis sobre uma escolha narrativa considerada comum, em que a morte de uma personagem gay serve o propósito de fazer avançar a história de uma personagem heterossexual, por exemplo. É que, indica o estudo, mais de 25 personagens femininas lésbicas ou bissexuais morreram na TV desde o início deste ano.

O estudo nota ainda a presença de pessoas portadoras de deficiência nas séries norte-americanas, que ainda em significativa minoria aumentaram em relação ao ano anterior – outro recorde nos canais generalistas, com 1,7% do total das personagens.

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