Notável maturidade musical

Aliando subtileza interpretativa, profundidade expressiva e domínio técnico, Filipe Quaresma captou a essência de cada uma das obras que integra o seu disco

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Filipe Quaresma é um dos mais interessantes músicos portugueses da actualidade

Tal como publicado na página web da Artway – empresa de produção e agenciamento artístico sediada no Porto, responsável pela edição do disco – “portuguese music for solo cello” de Filipe Quaresma é “uma edição fonográfica inédita na discografia portuguesa”. O interesse e a novidade deste disco devem-se a vários factores, destacando-se o intérprete e o repertório.

Filipe Quaresma é um dos mais interessantes músicos portugueses da actualidade, tal deve-se em particular à sua enorme versatilidade interpretativa. O violoncelista aborda com o mesmo à vontade repertório barroco, clássico, romântico, moderno e contemporâneo. É membro da Orquestra Barroca da Casa da Música e do Ensemble Darcos, colabora regularmente com o Remix Ensemble Casa da Música e com o Sond’Ar-te Electric Ensemble, para além disso apresenta-se regularmente em recitais a solo e em formações de câmara. Possui ainda considerável experiência orquestral, destacando-se a sua recente colaboração como membro do naipe de violoncelos da Orchestre Révolutionnaire et Romantique dirigida por Sir John Elliot Gardiner, que culminou na edição em disco das Sinfonias nº 2 e nº 8 de Ludwig van Beethoven pela etiqueta SDG.

A inclusão de cinco obras para violoncelo de compositores portugueses contemporâneos, que se encontram em plena actividade criativa, é o outro ponto de interesse do disco, destacando-se ainda o facto de integrar quatro obras em primeira edição fonográfica. O universo expressionista de Antagonia de Alexandre Delgado, o melodismo de Labirintho de Carlos Azevedo, o espectralismo de Moment à l’extremement de Miguel Azguime, a relação música-poesia presentes em Bicicleta do poeta de Nuno Côrte-Real e a gestualidade sonora de Ostinati de Ricardo Ribeiro demonstram a diversidade estilística da música contemporânea portuguesa. Se por um lado as evidentes diferenças entre as cinco obras possibilitam uma interessante panorâmica do repertório português para violoncelo solo, por outro exigem diferentes recursos técnicos e abordagens interpretativas – as obras de Delgado, Azevedo e Côrte-Real são para violoncelo solo, as de Azguime e Ribeiro integramlive electronics.

Neste excelente registo fonográfico Filipe Quaresma captou com notável maturidade musical a essência de cada obra, aliando subtileza interpretativa, profundidade expressiva e um perfeito domínio técnico do seu instrumento. O booklet do disco é disponibilizado em formato digital na página da Artway, deste modo quem desejar adquirir as suas faixas on-line terá a possibilidade de aceder ao seu conteúdo.

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