No vespeiro de Belfast

A primeira longa-metragem de Yann Demange mostra que o realismo seco e pragmático ainda não é uma arte perdida no cinema britânico.

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A primeira longa-metragem de Yann Demange mostra que o realismo seco e pragmático quanto baste, no-nonsense, ainda não é uma arte perdida no cinema britânico, mesmo a funcionar num registo um nadinha “automático” em demasia.

O filme que ‘71 imediatamente ecoa é Sunday Bloody Sunday, que foi a revelação do estilo “jornalístico” de Paul Greengrass. Também aqui estamos no conflito norte-irlandês, em ambiente e época (1971, claro) impecavelmente reconstituídos naquele estilo muito objectivo que deve alguma coisa ao filme de Greengrass. Mas se nesse filme tudo ia dar ao maniqueísmo e à “denúncia” (das atitudes britânicas e lealistas face à minoria católica), o ponto do filme de Demange, através da história dum soldado inglês fortuitamente deixado à sua sorte no vespeiro de Belfast, é a negação do maniqueísmo, o recorte dos carácteres (bons e maus) que existem em todas as facções e que precedem uma posição política.

Entre uma coisa (o maniqueísmo) e outra (a lição de moral) venha o diabo e escolha, e não se pode dizer que Demange elabore muito para além dessa premissa “didáctica”. Mas o filme se se vai tornando progressivamente desinteressante, não perde por completo a sua energia de reconstituição, o que o deixa ser, tudo somado, uma obra perfeitamente visível.

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