Ninguém pára esta máquina

Já não são um fenómeno passageiro. Oito anos, quatro álbuns e centenas de concertos por esse mundo fora depois, os Buraka Som Sistema têm a marca da maturidade vincada. Viajámos com eles até ao Sónar, um festival que se tem revelado fundamental para a afirmação internacional do grupo

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Invasão consentida de palco, com Blaya e Kalaf no meio das admiradoras mais afoitas que se lhes juntaram para a celebração colectiva final — um quadro que os Buraka repetem em todo o mundo Steve Stills
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12h45 | Aeroporto - Chegada ao aeroporto de Barcelona, com João Barbosa e Kalaf Ângelo a anteciparem a sua vinda por causa do documentário Off The Beaten Track, que passou nas sessões de cinema do festival Sónar
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13h30 | Refeição - No dia do concerto chega a restante comitiva, entre músicos e técnicos. Fred Ferreira, Rui Pité e Andro Carvalho almoçam
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14h30 | Recinto - Entrada no recinto diurno do festival, que, além de concertos, continha magníficas instalações de Alva Noto e James Murphy co…
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16h50 | À espera - Numa digressão também existem tempos mortos: aqui Kalaf espera pelo transporte que faz a ligação entre o festival e o hotel
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20h30 | Nos bastidores - Blaya dá os últimos retoques na imagem, no camarim, alguns minutos antes de o grupo subir ao palco
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21h | Concerto - Início do concerto, com Fred na bateria e João nos teclados e sequenciadores, os dois cá atrás, proporcionando todo o sustentáculo rítmico à festa
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22h45 | Depois do espectáculo - A seguir ao concerto, os peruanos Dengue Dengue Dengue! e os Buraka posam para a foto
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10h | Táxi - João Barbosa e Kalaf Ângelo apanham um táxi, regressando ao aeroporto de Barcelona. Próxima paragem: Porto

O inglês Mark Graham, o principal responsável pelos assuntos dos Buraka Som Sistema quando estão em digressão pela Europa, entra no camarim e grita para que todos ouçam: “Falta meia hora!”

Não é a primeira vez que o grupo português toca no festival Sónar de Barcelona, mas nesta sexta-feira (há exactamente uma semana) respira-se o clima dos grandes acontecimentos. O Sónar é talvez a principal montra internacional para quem se movimenta nas avenidas das músicas electrónicas e suas adjacentes. Para aqui confluem público de todo o lado e a imprensa mais influente do mundo. E os Buraka sabem-no. Foi aqui que em 2005 mostraram pela primeira vez o tema Yah!. E foi aqui, em 2009, que arrancaram uma actuação inesquecível, de tal forma que regressaram agora pela quarta vez, um privilégio reservado a eleitos — ainda no sábado oEl País os classificava como “os grandes triunfadores das edições anteriores”. 

Mas este concerto é especial por outra circunstância. Têm novo álbum, Buraka, disponível nas lojas de todo o mundo na segunda-feira, e vão tocar algumas canções novas. No camarim, cada um gere a ansiedade à sua maneira. João Barbosa (Branko) deita-se num sofá. Andro Carvalho (Conductor) responde a mensagens no iPhone. Rui Pité (Riot) opta pelo computador portátil. Blaya lança de vez em quando uns gritos de entusiasmo, estimulando o ambiente, enquanto se arranja. E Fred Ferreira, o baterista convidado, muda de camisola, talvez antecipando o que vai suar daí a pouco. Kalaf Ângelo pergunta-nos se ainda terá tempo para dar uma olhada à magnífica exposição de Carsten Nicolai (Alva Noto) patente num espaço contíguo do gigante complexo da Fira de Monjuic, onde desde o ano passado se realiza o Sónar na sua versão diurna. Respondemos que será apertado, mas ele já nem nos ouve: corre em direcção à porta, regressa um quarto de hora mais tarde. 

Em palco está tudo a postos. Artur David, o técnico de som que também trabalha com a fadista Mariza, já está no seu lugar, o mesmo sucedendo com o técnico de vídeo, João Santos. A supervisionar tudo, tranquilo como sempre, Pedro Trigueiro, responsável pelo management do grupo. “Faltam dez minutos!”, volta a ouvir-se Mark Graham, agora com voz mais grave.

Andro e Rui foram pais há cerca de um ano e mostram fotos dos rebentos. O segundo brinca dizendo que agora é quando está em digressão que descansa. “Em casa não é possível”, ri-se, enquanto Blaya dança e se observa ao espelho. João parece o boxeur que vai entrar daí a minutos no ringue. Fala-se com ele, abana a cabeça em sinal de concordância, mas percebe-se que já não está ali, talvez concentrado em antecipar o primeiro golpe que efectuará quando subir ao palco. 

São quase 21h, horário nobre da parte diurna do Sónar, que os Buraka vão encerrar. A actuação vai coincidir com o jogo de futebol Espanha-Holanda, mas o espaço totalmente repleto não o denúncia, até porque este é um festival global que recebe público de 99 países. 

É agora. Os seis aproximam-se do cenário. João, Rui e Fred sobem os degraus para se ocuparem de sequenciador, dos teclados, da percussão ou da bateria, perante o delírio geral. O ritmo irrompe e nas primeiras filas vibra-se como se não houvesse amanhã. Pouco depois entrarão Kalaf, Andro e Blaya, os três cantores-agitadores, que interagem com a assistência. Quando entram em cena apercebem-se de que há um problema. Os microfones não emitem som. Instala-se uma ligeira confusão. Blaya grita a João que não ouve nada. Este responde que existe imensa distorção. São apenas alguns instantes, percepcionados a partir da lateral do palco onde nos encontramos, mas entre a assistência provavelmente ninguém deu por nada. Kalaf entretém o público. Às tantas comunicam visualmente entre todos. Os problemas parecem estar superados. E o concerto pode prosseguir.

Hoje os Buraka, ao vivo, são uma máquina imparável. Não falham. São assíduos dos principais festivais europeus. E principalmente durante os meses de Verão não há fim-de-semana em que se mantenham em casa. São o grupo português da cultura pop com mais visibilidade internacional de sempre e alguns números impressionam, como os mais de sete milhões de visualizações que KalembaSound of kuduro ou Hangover têm no YouTube, ou os cinco milhões do tema que compuseram para uma publicidade da Adidas, com o mundial do Brasil em mira. 

Curiosamente, o Sónar acabou por ser relevante na fase inicial da vida do projecto, ainda antes de o nome Buraka Som Sistema existir. É que em Junho de 2005, no final da sessão DJ dos 1-Uik Project, então uma aventura de João e Kalaf, estes surpreenderam passando Yah!, um tema diferente do que se ouvira até aí, fazendo com que Kalaf gritasse pela primeira vez para uma plateia estrangeira: “This is Lisbon sound!”

“Recordo-me bem disso”, reconhece João. “Essa primeira vez no Sónar foi uma consequência da minha ida à Red Bull Music Academy de São Paulo, em 2002.” E Kalaf também se lembra: “Estávamos muito excitados com aquela canção, mas não imaginávamos como é que as pessoas iriam reagir. Nesse sentido essa primeira vinda ao Sónar foi importante, apesar de termos actuado num palco discreto. Mas tivemos a percepção, pela primeira vez, de que as ideias que estávamos a desenvolver em Lisboa — ainda sem grande eco — faziam sentido.” Foi também nessa viagem que acabaram por entregar em mão ao americano Diplo (dos Major Lazer, na altura cúmplice de M.I.A.) um CD com temas da editora Enchufada (dos 1-Uik Project aos Macacos do Chinês) que despertou a atenção do editor da Mad Decent, que lhes viria a abrir algumas portas. 

Essa viagem marcou. Mas um dos concertos mais determinantes para o futuro aconteceu anos mais tarde, quando tocaram no palco SonarPub à noite. Ou no Coachella, nos Estados Unidos. Ou em Londres. Na visão de João, o grupo começou por ser reconhecido pela diferença. Mas o mais importante foi o período de consolidação. “Não chega um projecto ser apenas reconhecido pela diferença. O passo seguinte é mais difícil — agarrar numa ideia, transformá-la e atribuir-lhe longevidade. Hoje somos uma banda de música electrónica que tem influências de Lisboa, Luanda ou Londres.”

Compromisso

Há oito anos, quando começaram a afirmar-se, gerou-se um efeito de surpresa, com uma sonoridade eufórica e uma presença em palco eléctrica. Hoje esse sintoma já não é tão pronunciado. Não podia ser. Os desafios são outros. Podiam ter sido um fenómeno passageiro. Mas depois de centenas de concertos pelo mundo, da edição deFrom Buraka To The World (2006), Black Diamond (2008), Komba (2011) e deste quarto disco percebe-se que não. 

“Temos pensado muito em como prolongar no tempo a nossa acção, mantendo a relevância”, reflecte Kalaf, “e ao mesmo tempo como construir um movimento à nossa volta, estando com outras pessoas que pensam como nós.” 

O novo álbum constitui um compromisso entre sonoridades de impacto físico imediato e outras em que a temperatura rítmica desce, pronunciando novas influências como o zouk bass, com cadências mais sensuais do que sexuais. Há um conjunto de temas com linhas de continuidade em relação ao passado, como StoopidVuvuzela (Carnaval) ou Van damme, espelhando inúmeras influências (kuduro, baile funk, moombhaton, cumbia, dancehall ou house) que confluem num som desvairado e dançante. Há também uma vontade nítida de aproximação à estrutura convencional da canção, como se vislumbra em ParedeIn a minute ou Lights off, em que exploraram as possibilidades vocais, principalmente de Andro, mas também de Kalaf e Blaya. E depois há canções diferentes do que já fizeram até aqui, como a exóticaBumbum, a excelente Do me now, com a voz da inglesa Yadi e pormenores de zouk bass introduzidos pelo português Bison, ou Sente, em que o som se torna mais balanceado e sensorial. 

Para chegarem aqui dizem que foi importante o período que se impuseram a si próprios para se aventurarem noutros projectos. João lançou no ano passado o excelente álbum Drums Slums & Hums como Branko, e com essa designação tem feito sessões DJ pela Europa. Blaya também se lançou a solo. Riot produz e actua como DJ, enquanto Andro se mantém atento às actividades mais subterrâneas da música angolana ou de Lisboa. Finalmente, há poucas semanas, João e Kalaf lançaram a linha de roupa desportiva Rest Of The World. “Foi o tema que fizemos para uma campanha da Adidas — Bota — no final de 2013 que nos fez activar outra vez o grupo em termos criativos”, recorda João, “e a partir daí fomos percebendo como estávamos a funcionar e decidimos voltar a fazer um disco”. Depois de uma longa temporada com espectáculos, sentiam vontade de interpretar temas novos em palco e a única solução era gravá-los. 

Podiam optar por não fazer qualquer álbum. No circuito onde se movimentam, o formato já não tem a relevância de outrora. Mas insistem em fazê-lo porque lhes dá satisfação. “Independentemente de termos disco ou não, acabamos por ocupar uma posição singular no circuito de festivais europeus porque não existe muita gente a fazer o mesmo que nós e a agenda de concertos acaba por estar preenchida”. 

Ou seja, o impulso de fazerem um álbum parte deles e não de qualquer imperativo exterior. “Quase ninguém entende a nossa opção no campo da música de dança contemporânea, porque o impacto dos álbuns resulta mais deste ou daquele tema” afirma João. “É a junção de duas ou três situações, com música e vídeos, que cria um momento de Internet. E isso acaba por ter reflexo naquilo que é a vida da banda. Mas nós temos ainda uma forma de pensar em que faz sentido criar um conjunto de canções e disponibilizá-las para as pessoas, dentro de uma embalagem, com um conceito. Com um single isso não se consegue.”

O documentário Off The Beaten Track, estreado no ano passado, parece ter delimitado um antes e um depois na vida do grupo. Na véspera do concerto, foi apresentado nas sessões de cinema do festival. “No documentário explicitamos o que andamos aqui a fazer e a forma como o fazemos, talvez por isso sentimos que este álbum resulta de uma maturidade pós-documentário, em que já dissemos quase tudo. E daí também darmo-nos liberdade para fazermos um tema como Do me now, diferente dos outros.” “É isso mesmo”, corrobora Kalaf, “é como se o documentário mostrasse as cidades, os géneros e as danças associadas que nos inspiram, explicitando ao mesmo tempo o que vai nas nossas mentes, e o álbum o reflectisse. Hoje sabemos que abraçamos, reagimos e gostamos de movimentos diversos espalhados pelo mundo. Como isso se reflecte no que fazes e como encontras a tua voz no meio dessas influências todas é o que este disco mostra”. 

O processo criativo não seguiu um guião preciso, mas existiram três pessoas que se encarregaram das fundações rítmicas numa fase inicial — João, Andro e Rui. O primeiro é aquele que assume de forma mais directa o papel de produtor. Andro colecciona hipóteses instrumentais que possam servir de matéria de arranque e Rui detém uma visão mais técnica. “Numa primeira fase, durante duas semanas, encontrámo-nos os três numa casa e estivemos a trabalhar em beats”, recorda João, “e mais tarde, numa segunda fase, já depois de seleccionadas ideias, algumas já com refrãos, encontrámo-nos todos”. 

Portugal pós-Buraka

A conversa com os dois membros do grupo decorre num restaurante, no bairro do Raval, perto do Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, onde até 2012 decorria o Sónar. Somos constantemente interrompidos por outros músicos, que também por ali se encontram e reconhecem a dupla. Há abraços, manifestações de afecto, pergunta-se o que se tem feito nos últimos tempos e recorda-se a última vez que se viram, em algum clube ou festival pelo mundo fora. Os Buraka foram criando muitas cumplicidades fora de Portugal. A sua história inicial não pode ser dissociada de um ambiente global propício à afirmação de um projecto semelhante, ao lado de nomes como M.I.A., Santigold, Diplo, Major Lazer e outros. Nem todos têm tido uma relação fácil com a passagem do tempo e eles sabem-no. 

“No outro dia falávamos acerca do Sinden, que era alguém muito relevante quando começámos, e que se perdeu um pouco”, expõe João, “porque anda sempre à procura da novidade, sem perceber que aquilo que fez há cinco anos é tão importante como a ideia nova que desenvolve agora. É dessa junção que nasce algum equilíbrio. O importante não é perceber o que pode vir a dar, mas fazer o melhor para colmatar as necessidades de determinado tema”. 

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Steve Stills

Em Portugal, apesar da lentidão e ainda de algumas resistências, existe finalmente um ambiente pós-Buraka, que os próprios ajudaram a edificar, graças à estrutura da Enchufada. Mas não só. Hoje existem vários projectos credíveis diferentes (dos Batida aos Throes + The Shine) e a actividade da editora Príncipe tem possibilitado a visibilidade internacional de outros nomes como Marfox ou Nigga Fox, este último aliás também presença no Sónar. 

No dia do concerto, Kalaf e João desdobram-se em entrevistas com a imprensa internacional, e os restantes membros do grupo chegam à cidade. Blaya está cansada — actuara na véspera, a solo, no evento Santo Vertical — mas os restantes aparentam frescura, embora Fred Ferreira não tenha mãos a medir. Para além dos Buraka, toca com os Orelha Negra, partilha o projecto de 5-30 com Pacman e Regula e acabou de gravar com a dupla brasileira Marcelo Camelo e Mallu Magalhães, sob o nome de Banda do Mar. 

Mas quando subimos para a carrinha que nos transportará do hotel para o recinto reina a boa disposição. Antes deles actuaram os peruanos Dengue Dengue Dengue!, com a sua infusão muito particular de cumbia, tecno e dub. São velhos conhecidos dos portugueses, fazendo parte da Enchufada, e quando se cruzam nos camarins o calor da estima mútua sente-se no ar. Quem também está nos bastidores é o inglês Andy Duggan, um dos responsáveis pela inglesa Primary, que agenda os espectáculos do grupo pelo mundo, e elementos da Red Bull Music Academy, envolvidos na produção do documentário. 

Todos nutrem confiança nas capacidades do grupo português, vibrando quando os Buraka estão em palco. É um concerto de grande adrenalina, movido a temas que a maior parte do público já parece conhecer, com destaque para Kalemba (wegue wegue), que no final de 2009, durante sete semanas, não saiu do primeiro lugar dos top de singles mais ouvidos em Espanha. 

Há também os já habituais quadros cénicos em que quem está à frente do palco é convidado a subir, para um momento de euforia colectiva, ou em que a banda conduz o público ao chão para este se impulsionar de seguida. Alguns temas novos como Stoopid ou Vuvuzela (carnaval) integram-se na perfeição no repertório ao vivo do colectivo, com João, Fred e Rui a agarrarem o ritmo pelos colarinhos, numa toada sonora inquieta que se aloja no corpo, para Kalaf, Blaya e Andro impelirem a assistência para a festa, que responde de forma esfusiante. 

No final trocam-se cumprimentos, discutem-se os condicionalismos do som na fase inicial e existe um sentimento geral de satisfação. É hora de baixar a adrenalina. Nos bastidores recebem-se convidados. Aparece muita gente a dar-lhes parabéns. E discute-se animadamente o surpreendente Espanha-Holanda. 

É hora de jantar. Músicos, técnicos e alguns convidados dirigem-se a um restaurante próximo. A refeição é longa e animada. Discute-se o cartaz do Sónar e há quem deseje dar um salto ao recinto, mas o cansaço parece falar mais alto, com Fred a brincar: “Não vou ao Sónar Night, mas o Xonar Night pode contar comigo!” A próxima digressão à Austrália também é motivo de conversa, com toda a gente a aludir à longa viagem. “Já repararam que no regresso vamos directos da Austrália para a Mealhada?”, diz Andro com sorriso, para Rui ripostar que isso não é relevante, porque o que interessa mesmo é tocar ao vivo. 

É comum acontecerem situações semelhantes. No dia seguinte por exemplo, iriam directos de Barcelona para Paredes, perto do Porto, sempre em trânsito, o que não surpreende porque 60% dos concertos do grupo são fora de Portugal. O que faz com que abundem as histórias ocorridas em viagens; Andro é gozado pelos restantes quando é relembrada uma ida a Nova Iorque onde se terá perdido. 

Quando chega a comida à mesa, as conversas centram-se aí. Andro e Rui discorrem sobre locais onde existe boa cozinha africana na periferia de Lisboa, enquanto a qualidade do restaurante é enaltecida por todos. O produtor e DJ americano Theo Parrish, que se havia juntado mastigando com evidente deleite o repasto, diz que nunca tinha comido uma carne “que mais parece bolo”, provocando a risota geral. 

Às tantas discute-se o universo luso para lá da música e o artista Vhils, que realizou o vídeo para Stoopid, e João Pedro Moreira, realizador do documentário, são enunciados como exemplos de talento português, embora a nacionalidade seja secundária para João: “Quando sabemos o que queremos, procuramos as pessoas que nos podem ajudar a chegar lá, independentemente da origem e de quem sejam.”

Quando lhes perguntamos qual foi a personalidade que lhes endereçou o elogio mais surpreendente, as opiniões dividem-se. Kalaf aponta para Mark Ronson, o produtor que deu fama a Amy Winehouse, “porque não estava apenas a ser simpático”. João lembra um episódio com Jessie Ware, a cantora que nos dois últimos anos tem tido bastante sucesso, principalmente em solo britânico. “Encontrámo-nos num festival e confessou-me que, num dos nossos concertos no Sónar, quando ainda ninguém a conhecia, foi uma das fãs que subiram ao palco no meio de dezenas de outras, o que teve bastante piada porque pouco tempo depois, ali estávamos à conversa em igualdade de circunstâncias.” 

Na manhã seguinte, no hotel, à hora do pequeno-almoço, lá estão o inglês Mark Graham, ou o português Pedro Trigueiro, a supervisionar tudo, de forma diligente. Lá fora, está um calor abrasador. Músicos e técnicos vão chegando, um a um, engolindo rapidamente qualquer coisa, antes de se sentarem na carrinha que os conduzirá ao aeroporto. João e Kalaf atrasam-se ligeiramente. 

Resta-lhes o táxi. Despedem-se de Mark Graham. Amanhã, na Irlanda, e no próximo fim-de-semana, em Berlim e em França, e em muitas outras ocasiões nos próximos tempos, terão oportunidade de se cruzar com o inglês, responsável por eles sempre que estão fora de Portugal. E a sua voz ouvir-se-á muitas mais vezes, para avisar que “falta apenas meia hora!” 

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