Ninguém é inocente

O chileno Pablo Larraín assina um filme de uma inteligência notável que não deixa o espectador em paz nem depois do final: O Clube

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Tão simples e contudo tão complexo: quatro homens e uma mulher, mais um cão, numa moradiazinha discreta à beira-mar, como se fosse um lar ou um retiro. Não é nada disso, mas o chileno Pablo Larraín leva tempo a explicar o que ali se passa, e quando percebemos que todos eles são padres escondidos pela hierarquia da igreja para “pagar” os seus “pecados” longe dos holofotes, também percebemos que a religião é apenas uma das leituras possíveis de O Clube. O conflito moral no centro do filme, que o há, é muito simplesmente entre a honestidade e a falácia, entre a culpa e a redenção, porque inocente é coisa que ninguém aqui é, e o que se joga aqui transcende em muito a simples ideia de “bem” e “mal” para abraçar todos os gradientes da relatividade.

Não é por acaso que Larraín, e o seu director de fotografia Sergio Armstrong, filmam a contra-corrente, usando a desfocagem, os nevoeiros e os encadeamentos de luz para esconder a evidência e concentrar-se na essência. Filme que, mais do que religião, interroga os valores e a sociedade em que vivemos, O Clube não é só um murro no estômago; só quando saímos da sala é que percebemos a porrada de criar bicho que levámos quase sem dar por isso, mais próximos do mal-estar de Post-Mortem do que estaríamos à espera.

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