Música para respirar

O primeiro álbum de Tugalife. Música com grande capacidade de sugestão.

Foto

Músicos e produtores portugueses, pertencentes a novas gerações, a operar fora de Portugal, principalmente afectos às músicas de características electrónicas, é coisa que não falta nos últimos anos, como temos constatado nestas páginas. Londres tem sido um dos destinos mais apetecidos o que não surpreende.

É aí que hoje reside Ivo Fontão, mais conhecido por Tugalife, que na companhia de Frederico Mendes (cujo pseudónimo é Nave Mãe), este a residir no Porto, têm sido os timoneiros da editora 1980, da qual já se conhecem alguns EPs e a compilação Lyfers (Miguel Torga, Darksunn, José Acid ou Daino) que cartografava um pouco do presente e futuro das electrónicas portuguesas. Agora acaba de dar à costa o primeiro álbum da editora, da autoria de Tugalife, que pode ser adquirido digitalmente ou em cassete.

Duas opções de formato, aparentemente muito opostas, mas que acabam por se tocar. Por um lado porque quanto mais digital a vida discográfica se vai tornando, mais bolhas de curiosidade vão surgindo entre novas gerações que já cresceram com a imaterialidade. Por outro porque do ponto de vista sonoro esta é música digitalizada mas de atmosferas nebulosas e nostálgicas.

Música predominantemente instrumental, pontuada por alguns apontamentos vocais, que procura inspiração em elementos de vários idiomas (hip-hop, electro, tecno, ambientalismo, dub, pós-dubstep), mas sem que isso adquira algum significado particular, de tal forma é difícil de situar os ritmos preguiçosos e os ambientes etéreos que por aqui se ouvem, polvilhados pelo saudoso som granulado do vinil. Como muitos outros músicos e produtores portugueses da mesma geração (Marie Dior, Rap/Rap/Rap, Old Manual ou Die Von Brau) dir-se-ia que Ivo Fontão não se gosta de situar, tanto optando por abordar preferencialmente ritmos dolentes (Off target, Court, same), como por se abandonar pontualmente a configurações rítmicas mais próximas da dança (And i), mas ainda a velocidade desacelerada.

Independentemente desse aspecto o que fica é a irrepreensível composição das atmosferas, o clima sonhador e a forma como a música parece vogar ao sabor de motivos (um elemento vocal ali, o chilrear de um pássaro acolá, ou um elemento digitalizado mais á frente) que se vão repetindo de forma quase imperceptível à frente dos nossos ouvidos. Música espaçosa, com tempo, marcada pelo sombreado profundo do baixo, com grande capacidade de sugestão, onde todos somos convidados a submergir.

Sugerir correcção
Comentar