Munch: melancolia e morte para além de O Grito

Exposição no Museu Thyssen de Madrid reúne 80 obras do artista norueguês. Para além da loucura, do álcool e de todas as excentricidades, um artista em plenitude.

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Edvard Munch, Auto-retrato à la Marat na clínica do Dr. Jacobson em Copenhaga (1908-1909) Crédito: Colecção Robert Meyer/Museu Munch de Oslo

O mercado da arte com as suas somas astronómicas, o roubo no museu de Oslo e toda a mitologia que se criou à volta da tela de que o pintor fez quatro versões resumiram Edvard Munch, na cabeça de muitos, a uma obra só – O Grito. Mas o artista norueguês é muito mais do que esta pintura que parece ter o poder de convocar um turbilhão de emoções, de incomodar, de fazer pensar num certo lado negro (que nunca é igual de pessoa para pessoa). É muito mais do que este ícone da arte do século XX.

Edvard Munch. Arquetipos (até 17 de Janeiro), exposição que acaba de ser inaugurada no Museu Thyssen- Bornemisza, em Madrid, reúne 80 obras mais de metade pertencentes ao Museu Munch de Oslo, e outras 23 de colecções internacionais – para mostrar a produção do artista em toda a sua complexidade. Tarefa ambiciosa se se tiver em conta que a sua carreira foi longa – mais de meio século – e altamente profícua (entre pintura, desenho e gravura deixou 28 mil obras).

Segundo o seu responsável artístico, Guillermo Solana, o Thyssen quer que o visitante redescubra Edvard Munch (1863-1944) libertando-se das simplificações que sobrepuseram todo o folclore à sua volta – as neuroses, a dependência do álcool e do jogo, a loucura – à qualidade do seu trabalho. Garante Solana que o artista foi encerrado na sua fase juvenil da década de 1890 e catalogado como proto-expressionista. “Esquecemo-nos que, depois da sua saída do hospital psiquiátrico e do seu regresso a Oslo, Munch continuou a trabalhar durante meio século, um tempo de absoluta plenitude”, explica ao diário espanhol El País.

A exposição de Madrid tem uma organização temática que, acreditam os comissários, Paloma Alarcó e Jon-Ove Steinaug, não deixará ninguém indiferente: a natureza, a melancolia, o amor, a mulher, o nu e, sobretudo, a morte. O medo de morrer acompanhou-o sempre, algo que não é estranho para um homem que enfrentou a doença desde a infância e que perdeu a mãe quando tinha apenas cinco anos. A sua obra, diz Alarcó, expressa permanentemente uma "angústia profunda": “Jamais pintarei interiores com homens a ler e mulheres a tricotar. Pintarei pessoas vivas que respiram e sentem e sofrem e amam”, escreveu Munch.

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