Muito Tame para tão pouco Impala

Ao terceiro disco da banda, foram-se as guitarras, ficou o tédio.

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Os Tame Impala parecem ter trocado o seu desejo de guitarras psicadélicas pelo desejo de uma electrónica domada e diluída em lava melódica — que às vezes resvala para o lado mau da força

Demora um bocadinho a percebermos exactamente o que querem os Tame Impala em Currents, o seu terceiro álbum, que sucede ao inesperado êxito de Lonerism (2012). Mais propriamente, é no quinto tema, Eventually, que começamos a encontrar as raízes do novo disco — a banda australiana almeja a algo próximo de uns Broadcast sem ruído, uma electrónica domada e diluída em lava melódica. Uns Broadcast sem negrume, uns Broadcast sem Impala mas com muito Tame.

Claro que, aí chegados, já era óbvio que as guitarras que marcavam o par de rodelas editado no passado estão, em Currents, em plano secundaríssimo, excepto quando os Impala se aproximam de uma espécie de funk branco (é difícil resistir a repetir a expressão) muito “tame”, isto apesar de The less I know the better ser uma belíssima canção. Quase soa a rejeição do passado, tamanha a profusão de sintetizadores e órgãos — num tema particularmente infeliz, Yes, I’m changing, chegam mesmo a resvalar para aquele som sintético dos anos 1980 propenso a criar problemas gástricos a quem ainda quer manter um pouco de dignidade no interior dos ouvidos.

Se o pastiche (particularmente do psicadelismo) sempre fez parte da estratégia dos Impala, agora ele resvala para a zona má da força. Não que estas canções sejam más — são apenas Tame. Sim, estamos a repetir demasiadas vezes a mesma piada — mas eles também. 

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