Morreu Vicente Aranda, um veterano do cinema espanhol

O realizador, que teve vários êxitos do cinema espanhol nos anos 1990, morreu aos 88 anos.

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O realizador, à direita, durante as filmagens de Joana a Louca em Portugal

Vicente Aranda era um cineasta bastante popular em Espanha mas com muita pouca expressão em termos internacionais.

Raras vezes os vários êxitos de bilheteira que obteve e os prémios nacionais (como os Goyas) conseguidos pelos seus filmes se traduziram num interesse ou num reconhecimento fora de Espanha.

Dos vinte e cinco filmes de longa-metragem que realizou apenas cinco chegaram ao circuito comercial português, o último dos quais uma Carmen realizada em 2003. Paradoxalmente ou não, aquele que foi o seu maior sucesso comercial em Espanha, coroado com Goyas (o prémio espanhol de cinema), ficou por estrear em Portugal: Amantes, de 1991, com Victoria Abril, o relato de um “fait divers” passional sucedido na Madrid dos anos 40.

Aranda era um catalão, de Barcelona, que vivia em Madrid desde que fugira “a sete pés” (conforme citação do jornal El Mundo) do nacionalismo catalão, que não aceitava nem compreendia. Mas foi numa relação umbilical com a sua cidade natal que a sua obra se iniciou, nos anos 60, sob os auspícios da que ficou conhecida como a “Escola de Barcelona”, um grupo de cineastas baseado na cidade catalã, todos eles pouco ou nada conhecidos do público português, mas onde se integravam cineastas tão importantes como Joaquim Jordá ou, sobretudo, Pere Portabella.

Nesse contexto, muito marcado pelo sopro de modernidade e de liberdade recebido da nouvelle vague, Aranda rodou Fata Morgana. O passo seguinte foi aproximar-se dos géneros ou subgéneros menos “nobres” cheios de tradição do cinema espanhol (vide Jess Franco), os filmes eróticos e de terror, frequentemente combinando os dois termos, em títulos como Las Crueles, La Novia Ensanguentada ou Cambio de Sexo, já nos anos 70.

Data desta altura a fama de Aranda como cineasta “sexualmente obcecado”, a que ele respondia, ainda segundo o El Mundo, dizendo que “o sexo interessa-me”. Rodou ainda várias obras adaptadas de romances de escritores espanhóis, mormente Vázquez Montalban e sobretudo Juan Marsé (de quem adaptou quatro livros).

Dos filmes de Aranda estreados por cá, o melhor foi provavelmente Joana a Louca (2001), sobre a infeliz Joana de Castela, acidentamente apaixonada pelo seu marido no que devia ser apenas um casamento de conveniência política, e protagonizado por Pilar López de Ayala, que uns anos depois veio a ser a Angélica do Estranho Caso de Manoel de Oliveira. 

O seu último filme foi Luna Caliente, em 2009, mas Aranda continuava a pensar em novos projectos e ainda obcecado pelo cinema: via três filmes por dia.

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