Morreu o director de fotografia Vilmos Zsigmond

Era director de fotografia e filmou a invasão da Hungria pela União Soviética. Ficou conhecido pelo uso da luz natural.

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Attila Volgyi/Xinhua Press/Corbis

O director de fotografia Vilmos Zsigmond, que ajudou a definir a Nova Vaga do cinema americano dos anos 70, morreu na sexta-feira aos 85 anos no Big Sur, Califórnia.

Nascido na Hungria, Vilmos Zsigmond foi autor de cinematografias como O Caçador e Encontros Imediatos do Terceiro Grau, sendo conhecido pelo seu gosto pela luz natural.

O director de fotografia fugiu da Hungria em direcção à Áustria com 9000 metros de filme na sequência da invasão pela União Soviética em 1956, depois de com o seu amigo Lászlo Kovács ter filmado secretamente os russos a esmagarem a revolta em Budapeste. Conseguiu a cidadania americana em 1962. Filho de um futebolista famoso, tinha estudado cinema na Academia de Teatro e Cinema de Budapeste.

Num documentário sobre a sua obra, No Subtitles Necessary: Laszlo & Vilmos, explicou como desenvolveu aquela que se ia tornar a sua assinatura num filme de Peter Fonda intitulado O Regresso (The Hired Hand): “Tirei a ideia de como iluminar O Regresso das aldeias na Hungria onde não há electricidade e se usam candeeiros a petróleo.” Para ele, criar um ambiente era mais importante do que fazer tudo parecer perfeito, afirmando que com o director de fotografia Lászlo Kovács ajudou a criar a Nova Vaga nos Estados Unidos – “luz simples, mas mais realista”.

Foi descrito como “o poeta-mágico” dos directores de fotografia, segundo um perfil que a revista norte-americana Rolling Stone publicou dele em 1980, gabando-lhe o amor e a paixão pela profissão mas também a modéstia numa Hollywood cheia de egos.

Em 1999, ganhou um prémio carreira atribuído pela American Society of Cinematographers. Steven Porter, presidente da International Cinematographers Guild, disse agora num depoimento citado por vários media americanos que o seu génio não estava apenas nas imagens: “O seu início corajoso conseguindo filmar a revolução húngara será sempre uma parte importante da sua herança. Ele fez a diferença.” Uma sondagem realizada pela guilda em 2003 elegeu Zsigmond como um dos dez directores de fotografia mais influentes de sempre.

Além dos realizadores Michael Cimino e Steven Spielberg, o director de fotografia trabalhou com Brian De Palma, Mark Rydell, Woody Allen, Robert Altman, George Miller, Roland Joffé, John Boorman ou Richard Donner. Começou a trabalhar sob o nome americanizado de William Zsigmond, em filmes de série B, tendo primeiro chamado a atenção através da sua colaboração com Robert Altman em A Noite Fez-se Para Amar (McCabe & Mrs Miller) e O Imenso Adeus.

Sempre defendeu que a direcção de fotografia deve estar subordinada à realização, acreditando no trabalho de equipa. Por causa disso, nunca voltou a trabalhar com Spielberg, apesar do Óscar que recebeu por Encontros Imediatos do Terceiro Grau, dizendo que se tinha sentido um simples operador de câmara sem possibilidades de contribuir com ideias. “Estive para me despedir várias vezes, mas não encontraram um substituto e por isso acabei a rodagem”, contou vários anos depois.

“Um director de fotografia só pode ser tão bom como o realizador”, disse à revista Rolling Stone. “A história é a coisa principal, e o realizador conhece a história e os personagens melhor do que ninguém. Gosto de estar num filme pelo menos quatro semanas antes de começar, falar com o realizador, assistir aos ensaios, pensar. Assim posso ter ideias – como iluminar, que ambiente quero construir. A coisa mais importante para o operador de câmara é saber que tipo de história o realizador quer contar. Depois visualmente, com a minha luz e ambiente, sublinho o que ele tenta dizer. O operador de câmara não deve ter um estilo próprio. Não tem esse direito, porque pode matar a história, matar o conceito do realizador. Juntos, devem criar um estilo para esse filme em particular. Um bom operador deve conseguir que os seus filmes sejam sempre diferentes."

É através da iluminação que o director de fotografia se transforma num artista - e para jantar à luz das velas não é preciso necessariamente acendê-las. “Para obter o efeito de uma vela a luz na cara não tem necessariamente de vir de uma vela”, disse numa crítica à famosa direcção de fotografia de Barry Lyndon. Um dos maiores problemas que teve de resolver foi durante as filmagens de O Caçador. Era preciso parecer que estava frio nos arredores industriais de Pittsburgh enquanto rodavam em pleno Verão. A solução foi usar desfolhante nas árvores, pintar a relva de castanho e molhar as ruas.

A Variety lembrava na notícia da sua morte os seus inícios com Altman quando surpreendeu em 1971 com A Noite Fez-se para Amar, usando uma paleta limitada de cores dessaturadas e dando ao western com Warren Beatty e Julie Christie um aspecto arrojado e melancólico.

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