Morreu Maureen O’Hara, estrela da era de ouro de Hollywood

Era a última grande vedeta, e grande actriz, sobrevivente da época clássica de Hollywood, memória viva dessas longínquas décadas douradas.

Maureen O'Hara
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Maureen O'Hara chegou a ser promovida como "a rainha do Technicolor" DR
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Maureen O'Hara em O Vale era Verde DR
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Maureen O'Hara morreu aos 95 anos Kevork Djansezian/REUTERS
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Maureen O'Hara ao receber o seu Óscar honorário, em 2014 Kevork Djansezian/REUTERS
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Com Natalie Wood em De Ilusão Também Se Vive - Miracle on 34th Street DR

Maureen O’Hara, conhecida pelos seus papéis de mulheres intempestivas - nomeadamente ao lado de John Wayne nos filmes de John Ford -, morreu este sábado aos 95 anos. A ruiva nascida na Irlanda era uma das últimas estrelas da era de ouro de Hollywood, contando com papéis em O Homem Tranquilo (1952) ou O Vale Era Verde (1941).

Segundo o seu manager, John Nicoletti, morreu na sua casa em Boise, no estado norte-americano de Idaho, rodeada pela família e a ouvir "a sua música preferida", exactamente do filme O Homem Tranquilo.

A actriz, conhecida como "Big Red" pelo seu cabelo mas também pelo temperamento marcado das suas personagens, como recorda a revista Variety, foi a mãe de Natalie Wood no clássico filme natalício De Ilusão Também Se Vive - Miracle on 34th Street (1947), talvez o seu filme mais conhecido, e a Mary Kate Danaher de O Homem Tranquilo.

Descoberta pelo actor e mais tarde produtor e realizador Charles Laughton - que lhe mudou o nome de família Fitzsimons para o artístico O'Hara, a actriz estreou-se no cinema britânico com pequenos papéis, chegando a Hollywood com uma participação em A Pousada da Jamaica, de Alfred Hitchcock (em que também trabalhava Laughton) em 1938 e, depois, dando nas vistas como a Esmeralda de O Corcunda de Notre Dame de Laughton (1939).

Com Laughton rodaria ainda, em 1944, This Land is Mine, de Jean Renoir, um dos mais corajosas abordagens de Hollywood à II Guerra Mundial e à complexidade moral dos temas da “resistência” e da “colaboração” na França ocupada, e onde Maureen fazia uso da dimensão mais estóica e mais “vertical” da sua personalidade cinematográfica.

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Mas foi O Vale Era Verde e John Ford que a transformou numa espécie de ícone - é ela a acenar junto ao portão, bela e sorridente, um plano emblemático de uma era do cinema. Chegou a ser promovida, com o advento do cinema a cores, como a "rainha do Technicolor". Como nos casos dos filmes de piratas em que entrou, os sublimes The Black Swan (Henry King, 1942), e The Spanish Main (Frank Borzage, 1945), onde a sua beleza ruiva explodia entre as mil cores do Technicolor.

 

O filme ganharia o Óscar de Melhor Filme numa altura em que O'Hara já tinha obtido a cidadania norte-americana e criava raízes no país onde faria o resto da sua carreira. Descrevia a sua infância, com muitos irmãos e com acesso ao ensino do teatro, da esgrima ou do canto, como fazer parte "da família Von Trapp irlandesa", como disse em tempos ao diário britânico The Independent. Daí adveio a sua confiança como actriz e o seu voluntarismo. 

Com Ford e com Wayne novamente, voltaria a filmar em Rio Grande (1950) e A Águia Voa ao Sol (1957) e, já sem John Wayne mas com Tyrone Power Uma Vida Inteira (1955), também de Ford. Como descreveria mais tarde na sua biografia, assinada pelo seu manager John Nicoletti, 'Tis Herself, o realizador mandava-lhe cartas de amor e chegou mesmo a esmurrá-la no rosto sem explicação - Ford era "talentoso e intolerável", cita o Washington Post, tratando assim as suas estrelas, nomeadamente Wayne ou Jimmy Stewart. 

O'Hara trabalharia também em televisão e no teatro, cantava e o seu último filme no cinema foi Eu, Tu e a Mamã (1990), com John Candy. O seu último trabalho foi um telefilme, dez anos depois, The Last Dance. No ano passado recebeu um Óscar honorário pela sua carreira.

Era a última grande vedeta, e grande actriz, sobrevivente da época clássica de Hollywood, memória viva dessas longínquas décadas douradas que o cinema americano viveu entre os anos 30 e os anos 50. Com a morte dela, Hollywood morre mais um bocadinho.

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