Morreu a romancista argelina Assia Djebar

Era considerada uma das maiores vozes da emancipação das muçulmanas.

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Assia Djebar, romancista e historiadora argelina e membro da Academia francesa, morreu aos 78 anos, na noite de sexta-feira num hospital de Paris vítima de doença prolongada, foi confirmado este sábado pela família. Era considerada uma das maiores vozes da emancipação das muçulmanas.

Um comunicado da família da escritora foi divulgado na manhã de sábado nas redes sociais e replicado por uma associação dedicada ao seu trabalho, Le cercle des amis d’Assia Djebar.

De seu nome verdadeiro Fatima Zohra Imalayène, Djebar nasceu a 30 de Junho de 1936 em Cherchell, cidade portuária argelina. Foi a primeira argelina e a primeira muçulmana a integrar a École normale supérieure de Sèvres em 1955, tendo escrito o seu primeiro romance, La Soif, em 1957, a que se seguiu Les Impatients, um ano depois.

Assia Djebar era considerada uma das mais prolíferas e talentosas escritoras da Argélia, estando traduzida em 23 línguas. A realidade argelina foi, aliás, um tema recorrente nos seus romances. Da emancipação das mulheres, à história do país, a escritora traça um retrato da Argélia que abandonou nos anos de guerra. Depois do conflito, Djebar voltou à Argélia para dar aulas, além de continuar a escrever.

Em Portugal, a autora tem publicado A Mulher Sem Sepultura – Uma Heroína Esquecida Pela História, pela editora Temas e Debates. O livro editado em português em 2008 conta a história real de Zoulikha, uma das tantas mulheres que se opuseram à presença francesa na Argélia.

“Eu escrevo como tantas outras mulheres escritoras argelinas, com um sentido de urgência, contra a regressão e misoginia”, dizia.

Pelo caminho, interessou-se pelo teatro e pelo cinema. Escreveu dezenas de peças e argumentos e realizou ainda dois filmes. O primeiro, Nouba des femmes du mont Chenoua, a história de uma engenheira argelina que regressa ao país depois de um longo exilio no ocidente, estreou-se em 1978 e valeu-lhe o Prémio da Crítica do Festival de Veneza no ano seguir. O segundo filme foi uma curta-metragem, La Zerdaou les chants de l'oubli, que realizou em 1982. 

Djebar foi distinguida com vários prémios pela sua obra, entre eles o Prémio Liberatur de Francfort, em 1989, o Prémio Maurice Maeterlinck (1995), o International Literary Neustadt Prize (1996) ou o Prémio Marguerite Yourcenar (1997). E nos últimos anos aparecia nas listas dos candidatos ao Nobel, tendo estado entre os favoritos no ano em que o prémio foi atribuído a Alice Munro.

Foi eleita para a Academia Francesa em Junho de 2005, tornando-se na primeira personalidade do Magreb a entrar para a prestigiada instituição. Já era membro desde 1999 da Academia Real da Língua e da Literatura Francesa da Bélgica.

Assia Djebar teve uma passagem pelos Estados Unidos, para onde se mudou em 1995. Foi professora de literatura francesa na Universidade do Louisiana e, depois, em Nova Iorque.

Segundo o El Watan, jornal argelino de língua francesa, a família da escritora está em contacto com o ministério da Cultura francês e a Embaixada da Argélia, em Paris, para que o corpo de Djebar seja enterrado na sua terra natal ao lado do seu pai e do seu irmão Mohamed, como era seu desejo.

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