Morreu a escritora Ana María Matute, um dos nomes maiores da literatura espanhola

Prémio Cervantes em 2010, a escritora tinha 88 anos.

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Pedro Cunha

A escritora catalã Ana María Matute, de 88 anos, Prémio Cervantes 2010, académica e uma das maiores autoras de língua espanhola do pós-guerra, morreu nesta quarta-feira, em sua casa, em Barcelona.

Quando, em 2010, Ana María Matute venceu o Prémio Cervantes, o mais importante galardão literário de língua espanhola, a escritora tornou-se na terceira mulher a receber esta distinção. Na altura, mostrou-se surpreendida, explicando que já em anos anteriores se tinha falado no seu nome “mas, no fim, ganharam sempre outros candidatos”.

Ana María Matute tinha já recebido o Prémio Nacional das Letras em 2007, o Prémio Ciutat de Barcelona em 1996, com El Verdadero Final de la Bella Durmiente, o Prémio Nadal em 1959, com Primera Memoria, o Prémio Nacional da Literatura e da Crítica em 1958, com Los Hijos Muertos, e o Prémio Planeta em 1954, com Pequeno Teatro.

Considerada uma das autoras mais importantes da época posterior à Guerra Civil Espanhola, Ana María Matute fazia frequentemente referências ao conflito na sua obra. Escreve o El País que a escritora “foi capaz como poucos de interligar na sua escrita as indispensáveis doses de realismo com um inegável lirismo”.

Entre as obras da escritora estão Los Abel, Pequeno Teatro e Los Soldados Lloran de Noche, que retratam a sociedade da época e as consequências da Guerra Civil. “Cresci com uma guerra e aguentei uma ditadura”, contava em 2011 ao PÚBLICO, numa entrevista a propósito do lançamento em Portugal de A Torre de Vigia (Planeta), o primeiro romance da sua trilogia medieval. Apesar de só ter sido traduzido há dois anos, A Torre de Vigia foi escrito em 1971, “quando ninguém se interessava pela Idade Média, quando Tolkien era um completo desconhecido para o público em geral”, como escreve esta quarta-feira o ABC.

“Começar a escrever romances passados na Idade Média correspondeu, no início, a uma necessidade na minha biografia”, disse então a escritora ao PÚBLICO. “A certa altura da minha vida, já estava farta de tanta realidade na minha literatura que resolvi saltar para um mundo que sempre me fascinou.”

Em Portugal, Ana María Matute tem ainda publicado Aranmanoth (Difel), Olvidado Rei Gudú (Difel) e Paraíso Inabitado (Planeta).

Ana María Matute, nascida em Barcelona em 1925, também se destacou como escritora de histórias infantis, entre elas Paulina, el Mundo y las Estrellas e O Aprendiz (editado em Portugal pela ASA). Na entrevista ao PÚBLICO, a escritora revelava estar a preparar já um novo livro. “Será uma história passada na actualidade. Tenho que ver se não saio tanto e se ganho a tranquilidade necessária para começar a escrever. Sem pressas, mas com a noção de que o tempo já me vai escasseando.”

Sabia que o tempo que lhe restava já não era muito, tendo em conta a sua frágil saúde, mas conseguiu acabar esta última obra. Segundo o El Mundo, na última vez que Ana María Matute apareceu em público, há uns meses, na Fundação Caballero Bonald, em Jerez, anunciou já ter o novo romance terminado.

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