Michel Houellebecq suspende a promoção do novo romance que sairá em Portugal na Alfaguara

Segundo o seu editor, o escritor, "profundamente chocado pela morte do seu amigo Bernard Maris [uma das vítimas]", abandonará Paris para um local mantido secreto. O romance sairá em Portugal no primeiro semestre deste ano

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Soumission foi publicado quarta-feira, no dia do ataque terrorista ao Charlie Hebdo DR

Michel Houellebecq, o escritor francês que fez a capa do Charlie Hebdo no dia em que a redacção do semanário foi alvo do ataque terrorista do qual resultou a morte de 12 pessoas, suspendeu toda as iniciativas promocionais do Soumission, o seu último romance, publicado quarta-feira, no dia do atentado, “profundamente chocado pela morte do seu amigo [o economista] Bernard Maris”, uma das vítimas.

A decisão foi anunciada quinta-feira pelo agente de Houellebecq, François Samuelson, à AFP. Este adiantou ainda que o escritor abandonará Paris para um destino na província francesa mantido secreto e que não será alvo de protecção policial.

Não é certamente o lançamento que Michel Houellebecq esperava para Soumission, o seu último romance que será publicado em Portugal pela editora Alfaguara, do grupo editorial Penguin Random House, com o título Submissão no primeiro semestre deste ano.

Nas últimas semanas, aquele que é hoje um dos mais célebres e polémicos escritores franceses parecia omnipresente na imprensa gaulesa, quer comentando o livro onde imagina uma França dirigida por um presidente muçulmano, quer vendo-o comentado fervorosamente, ora acusado de racismo e islamofobia, ora elogiado pelo génio da escrita.

Quarta-feira, a capa do Charlie Hebdo caricaturava Houellebecq na sua capa, transformando-o num mago que declarava: “Em 2015, perdi os dentes, em 2022, cumpro o Ramadão”. Horas depois de o semanário satírico chegar às bancas, deu-se o ataque. Por precaução, a sede da Flammarion, a editora de Houellebecq, foi então evacuada – temia-se que a publicação de Soumission e declarações antigas do escritor, quando classificou o Islão como “a mais estúpida das religiões”, declarações das quais se retractou entretanto, pudessem torná-la alvo.

Quinta-feira de manhã, aos microfones da RTL, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, deu voz ao desejo de que as mortes no Charlie Hebdo não conduzam a actos descriminatórios para com a comunidade muçulmana, afirmando: "A França não é Michel Houellebecq, não é a intolerância, o ódio e o medo".

Houellebecq não foi ouvido desde o ataque. Sê-lo-á na noite desta sexta-feira, quando for emitida pelo Canal+ uma entrevista gravada na noite anterior, onde terá abordado tanto o novo romance como o atentado de quarta-feira. Apesar do seu silêncio, o escritor continua muito presente no espaço mediático. Houellebecq seria a capa da próxima edição da revista de cultura popular Les Inrockuptibles, sob o título “Procurado”. "Achámos engraçado consagrar um dossier às polémicas que ele suscita, mas agora já não temos coração para rir", explicou ao Le Monde o director da publicação, Frédéric Bonnaud. Já na capa da última edição do semanário L’Obs, vemos realmente Houellebecq. E uma citação da entrevista publicada no interior: “Sobrevivi a todos os ataques”. “Há um certo embaraço perante esta capa”, declarou um membro da redacção ao Le Monde.
 

Actualizado às 12h30: incluída informação sobre a edição portuguesa de Soumission e declarações do primeiro-ministro francês.

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