Michael Mann, um grande cineasta da melancolia

A raridade e a seriedade do que Mann anda a fazer, no actual cinema americano, é coisa para tratar com respeito e cuidado.

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Não é outro Miami Vice, embora o ar de família seja evidente: a cortina de melancolia através da qual Mann observa as personagens é da mesma ordem, como o é a maneira de as inscrever no cenário urbano e nocturno, sempre entre o “realismo” e o “sonho” ou, pelo menos, o “torpor” – Mann tornou-se um grande cineasta da melancolia, e logo num género, o thriller, que se diria bem pouco propício a semelhantes estados de alma.

Mas o filme também se liga ao anterior Mann, Inimigos Públicos, filme de época que focava os primórdios do FBI e da “era da vigilância”.

Sendo tudo uma questão de tecnologia, que faz quer do crime quer da acção policial matéria abstracta (hackers e computadores), é particularmente notável o modo como Mann está sempre a desviar o filme para o que é palpável e ligado à terra: mercados, ruas, cerimoniais folclóricos, e um duelo final entre o herói e o vilão cibernéticos que é resolvido à facada e corpo a corpo (e que lembra, até pelo cenário asiático, o desfecho do Apocalypse Now ou do Conan de Milius).

A raridade e a seriedade – ou a raridade da seriedade – do que Mann anda a fazer, no contexto actual do cinema americano mainstream, é coisa para tratar com respeito e cuidado.

 

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