Memórias fotográficas

Foto
Francisco Umbral (Madrid, 2001). O fotojornalista Chema Conesa expõe pela primeira vez o que sempre viu impresso nas páginas das edições de fim de semana dos jornais El País e El Mundo. São 35 anos de vida cultural, política, desportiva e social de Espanha

Pergunta uma jornalista francesa a Claude Bussac, directora do PHotoEspaña: “Têm todas estas exposições sobre a fotografia que se faz em Espanha e nunca aparece o rei?”24 horas antes da inauguração da XVII edição do Festival de Fotografia e Artes Visuais, a Casa Real anunciava a abdicação de Juan Carlos. “Não se fala noutra coisa, ofuscou-nos”, graceja Claude.

Mas o rei esteve lá. É um dos 100 retratados que o fotógrafo Chema Conesa mostra em Retratos de Papel; e está, sem se mostrar mas como referente, nos 39 painéis fotográficos do jovem Daniel Mayrit. É surpreendente o que faz Mayrit com as Mensagens de Natal de Juan Carlos ao país. Primeiro, subtraiu-lhes a palavra “Espanha”; depois, dedicou-se a encontrar os substantivos mais repetidos e, em impressão a jacto sobre fundo castanho, uniforme, aparecem “família”, “terrorismo”, “sociedade”, “futuro”, “hoje”, “Constituição”, “crise”, “paz”. A série chama-se Sin España e está na mostra colectiva P2P.

Em Sin España não se lê a palavra memória. Mas é impossível fugir-lhe quando se faz uma maratona pelo PHotoEspaña 2014. Olhamos para os primeiros anos do século XX no formalismo de um amador (Arissa. A sombra e o fotógrafo — Fundación Telefónica). Demoramo-nos pela Espanha dos anos 1950 nos retratos de um colectivo (La Palangana — Círculo de Bellas Artes). Espreitamos como o país combinou palavras & imagens ao longo de mais de 70 anos, vertidos em anuários, catálogos, literatura, revistas, livros de fotografia (Fotos & Libros — Museu Reina Sofia). Vemos como a fotografia deixou de ser documental e criou uma linguagem própria para registar a modernidade que despontava na arquitectura dos anos 1920 aos 1960 (Fotografía & arquitectura moderna en España — Museu ICO). E, ainda que de formas mais inusitadas, é de memória que trata Fotografia 2.0., comissariada por Joan Fontcuberta e na qual vinte jovens fotógrafos/artistas obrigam o visitante a reflectir o mundo saturado de imagens (Círculo de Bellas Artes).

O que se descobre neste périplo é a evolução darwinista da fotografia, do pictorialismo à vanguarda, num país que se vai revelando e metamorfoseando nos códigos narrativos visuais que são próprios a cada época. Como nos explica Claude Bussac: “Existimos há 17 anos e ainda não nos tínhamos virado para dentro. Algo que muitos fotógrafos e artistas espanhóis já nos tinham chamado a atenção”. Num festival internacional como o é PHotoEspaña (com exposições que se prolongam até Setembro), o que a sua directora não pode prever é se chega aos 700 mil visitantes que somou no ano passado. 

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