Mayra Andrade quer “trazer uma sonoridade diferente à música cabo-verdiana”

Cascais,Tavira, Braga: Mayra Andrade mostra em três concertos portugueses como amadureceu Lovely Difficult, o seu mais recente disco

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Mayra Andrade DR

Menos de um mês depois de cantar na Casa da Música, com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, Mayra Andrade actua agora em Cascais, Tavira e Braga. Lovely Difficult é ainda a pedra de toque.

Os espectáculos (sempre às 22h) começam esta quarta-feira em Cascais, no Auditório Fernando Lopes Graça (Parque de Palmela), seguindo-se Tavira, no Parque do Palácio da Galeria, e por fim Braga, no Theatro Circo. Para Mayra Andrade, filha de pais cabo-verdianos mas nascida em Cuba e com um percurso de vida que passou pelo Senegal, Angola, Alemanha e Paris (onde hoje vive), estes espectáculos são o prolongamento de um ciclo: “Comecei a tournée do Lovely Difficult em Outubro e apresentei o disco em Portugal muito poucos dias depois de ele ter saído. Saiu em Novembro e no início de Dezembro eu já estava no CCB em Lisboa e na Casa da Música do Porto a apresentá-lo. Entretanto o espectáculo evoluiu muito. O que vou apresentar agora é o concerto do Lovely Difficult a um público que ainda não o viu e com um grau de maturidade que nestes nove meses conseguimos alcançar. Terá também músicas do meu primeiro disco, Navega.”

A carreira internacional de Mayra, a partir de Paris, tem-lhe aberto as portas a numerosos palcos e a outros universos musicais. “As coisas têm ido muito bem, até porque eu quis manter um perfil de tournée um bocadinho diferente do que tinha feito anteriormente. Quis tocar em festivais diferentes, em clubes, ir ao encontro de um público mais jovem e alternativo. E temos conseguido um bom equilíbrio entre teatros, festivais, clubes. Foi uma escolha que eu fiz em determinado momento, o querer abrir um espaço para uma sonoridade mais moderna, mais pop, com que eu venho convivendo há doze anos e que quis que se ouvisse também na minha música.”

Essa escolha, diz ela, não lhe trouxe nenhum contratempo, pelo contrário. “As pessoas têm aceitado bem essa mudança e não deixaram de me reconhecer, o que era muito importante para mim. Era preciso um fio condutor, uma linha vermelha que fosse o elemento de identificação, e no meu caso essa linha é a minha voz, a minha forma de cantar, que não mudou. Acho que habituei o meu público, nomeadamente o público cabo-verdiano, a esperar de mim algo sempre um bocado à margem, do que se faz na música tradicional, o meu percurso é esse.”

A sua relação com o público cabo-verdiano não se ressentiu, apesar de Mayra viver em Paris, onde contacta (e trabalha, nalguns casos) com músicos de várias latitudes. “O meu maior receio era que o público cabo-verdiano, até por não estar tão exposto ao que me influencia, estranhasse. Cabo Verde é um país muito aberto ao mundo mas também muito isolado, onde às vezes as coisas chegam mais tarde. Existe uma cena tradicional muito forte, uma cena zouk, hip-hop um bocadinho, mas em termos de música mais alternativa, pop-rock ou folk, ainda não existem referências. Com este disco eu acabo por criar um precedente e as pessoas receberam-no com muito entusiasmo, quase que me agradecem por estar a trazer uma coisa diferente.”

Na sua forma de encarar a música, Mayra coloca uma semente de liberdade: “Espero encorajar os jovens a fazerem a música que quiserem, a que seja mais parecida com eles, respeitando obviamente sempre a identidade de cada um.” Fala do seu país: “Acho que existe às vezes um certo tradicionalismo em Cabo Verde e a minha vida, as minhas viagens, prepararam-me para ter vontade de fazer uma música um pouco diferente. A música tradicional não deixa de me fazer vibrar, como nenhuma outra faz, e sei perfeitamente fazer música tradicional. Mas por enquanto a minha energia está mobilizada para trazer uma sonoridade diferente à música cabo-verdiana.”

 

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