Competiria talvez à psicossociologia perguntar se os portugueses foram feitos para o riso, ou o riso feito para os portugueses.

A crítica de cinema pode apenas, mais modestamente, verificar que a comédia não foi feita para o cinema português, apesar de ser uma das suas obsessões desde há décadas – mais precisamente, desde a famigerada “idade de ouro” de Vasco Santana e António Silva.

Os desastres acumulados ao longo destas décadas são inumeráveis, e agora junta-se mais um, este Mau Mau Maria, pequeno deserto de ideias de cinema e, particularmente grave dado o género, enorme vácuo de graça, que resume tudo a um humor de apartes e piadolas (com dois temas: as “gajas” e os “panilas”), conduzido por três protagonistas que a cada cena atiram os foguetes e apanham as canas e manifestamente acreditam que tudo o que digam ou façam é hilariante.

Não há nenhuma razão para que esta geração de cómicos que tem pontificado na televisão não possa passar para o cinema com algum sucesso (a presença de Eduardo Madeira, por exemplo, aparenta algum potencial). Tem é que haver cinema, de facto, em vez do penoso festival de auto-indulgência que Mau Mau Maria é. Facilmente entra para o “top 5” dos piores filmes portugueses de sempre.