Mário de Andrade vai ser o homenageado da Festa Literária de Paraty 2015

Depois de Millôr Fernandes, a Flip vai ter como figura central outro grande nome da cultura brasileira, figura fundamental do modernismo.

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A obra de Mário de Andrade é riquíssima a alarga-se a vários domínios diferentes dr

Poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, grande figura do movimento moderno na São Paulo da década de 1920, Mário de Andrade vai ser o homenageado da próxima edição da Flip, a Festa Literária de Paraty, no Brasil. A Flip 2015 decorre entre 1 e 5 de Julho, e esta edição (a 13.ª) coincide com os 70 anos da morte, prematura, de Mário de Andrade, em 1945, com apenas 51 anos, vítima de um enfarte.

No comunicado em que anunciam a escolha de Mário de Andrade para homenageado, depois de no ano passado terem dedicado a edição a Millôr Fernandes, os organizadores da Flip sublinham que não só a sua vida e obra ajudaram “a moldar a cultura brasileira”, como entre os “frutos indirectos da sua actuação estão, por exemplo, a preservação da cidade de Paraty e a própria Flip, que guarda muito do seu espírito irrequieto, festeiro e articulador”.

A obra de Mário de Andrade é riquíssima a alarga-se a vários domínios diferentes. Entre as dezenas de livros que publicou, destaca-se o romance Macunaíma, de 1928, que parte do trabalho etnográfico do alemão Koch-Grünberg em torno das lendas de povos índios. Fundamental também na sua produção literária é a poesia, nomeadamente o livro Pauliceia Desvairada.

Foi precisamente nesse início da década de 1920, quando preparava a publicação de Pauliceia Desvairada, que Mário de Andrade se lançou, juntamente com o então seu grande amigo Oswald de Andrade (com quem mais tarde acabaria por romper), na organização da Semana de Arte Moderna, que se realizou no Teatro Municipal de São Paulo em Fevereiro de 1922. Anos mais tarde, em 1928, trabalharia ainda com Oswald na Revista de Antropofagia por este fundada.

Mário de Andrade foi também um grande pesquisador das questões ligadas ao folclore brasileiro, e tem um importante trabalho no campo da etnomusicologia. Em 1928 publicou Ensaio sobre a Música Brasileira, e foi também o primeiro director do Departamento de Cultura de São Paulo, tendo criado a Sociedade de Etnologia e Folclore, o Coral Paulistano e a Discoteca Pública Municipal.

“Mário trouxe questões centrais para novos debates sobre o país, a vida cultural e a literatura”, refere o comunicado da Flip. “Cultura popular e indústria cultural, património material e imaterial, fala brasileira e língua escrita, cultura indígena, literatura, identidade e género, a sua vida e obra parecem ter antecipado discussões atuais, que a Flip pretende pautar e actualizar em sua edição 2015.”

Estão já a decorrer em Paraty iniciativas de alguma forma ligadas à influência de Mário de Andrade. Foi o trabalho deste em torno das questões do património que inspirou a exposição Histórias e Ofícios do Território, que pode ser vista até 8 de Março no Espaço Experimental de Cultura – Cinema da Praça, e que reúne “depoimentos da velha guarda da cidade [sobre] a vida em Paraty antes da construção da [auto-estrada] Rio-Santos, rompendo um isolamento de décadas”.

Está também previsto o lançamento de novos volumes da obra de Mário de Andrade pela sua editora, a Nova Fronteira, com destaque para uma obra inédita intitulada Café “na qual Mário trabalhou durante anos, e cuja concepção inicial, conforme descreveu em carta de 1929 a Manuel Bandeira, era a de um ‘romance de oitocentas páginas cheias de psicologia e intensa vida’”, mas que perto do final da vida do escritor tinha-se transformado numa “ópera coral”.
Segundo o curador da Flip 2015, Paulo Werneck, “Mário é um autor para o Brasil do século XXI, com vida e obra a serem redescobertas, rediscutidas, postas em debate”.

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