Malcolm Muggeridge

Fez tudo para sabotar a carreira jornalística, dizendo mal de quem o ajudou e dos lugares que lhe deram trabalho; ridicularizando todas as grandes e pequenas figuras que conheceu.

Há um grande escritor inglês que, por ter sido impiedosamente honesto, gozão, vaidoso e holier-than-thou, está hoje praticamente esquecido: Malcolm Muggeridge (1903-1990). Fez tudo para sabotar a carreira jornalística, dizendo mal de quem o ajudou e dos lugares que lhe deram trabalho; ridicularizando todas as grandes e pequenas figuras que conheceu.

Acabei de ler os dois volumes de autobiografia que publicou (até 1945). Foram reunidas por uma obscura editora de Vancôver (A Regent College Publishing) em 2006, com o acertado título Chronicles of Wasted Time.

São 500 e tal páginas mal impressas que contêm maravilha após maravilha de desencantos, desilusões e vinganças. Li o livro na praia, com um lápis entre os dedos e um apara-lápis espetado na areia. Fartei-me de rir, sublinhar e de ler alto.

A tragédia do livro é o desencontro com Evelyn Waugh. Eis um elogio: Muggeridge é um Evelyn Waugh de trazer por casa. Waugh escrevia mais bem, era pior pessoa, mas, tendo-se tornado católico, praticou – muito contrariado – mais boas acções.

MM, que tem as mesmas iniciais de Marilyn Monroe, era mais independente, livre e anárquico do que todos os contemporâneos. Quando se converteu ao catolicismo – ao contrário de Waugh – tornou-se um chato e um moralizador. Estragou-se como espírito livre, malandro e adversário. Tornou-se chato. E chato morreu.

Mas em Chronicles of Wasted Time aparece-nos como o espírito mais aberto. Não só da altura como de agora.

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