No Museu das Confluências misturam-se dinossauros e um acelerador de partículas

Projectado pelo gabinete austríaco Coop Himmelb(l)au, o museu francês abre com dez anos de atraso e uma derrapagem de custos de pelo menos 400 por cento.

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O museu está estrategicamente situado na confluência do Ródano e do Saône, na entrada sul da cidade
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Múmia numa posição fetal
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Múmia
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Funcionários instalam a múmia
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Os números oficiais apontam para um custo de 255 milhões de euros
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O Musée des Confluences de Lyon é uma arrojada obra de arquitectura desconstrutivista desenhada pelo gabinete austríaco Coop Himmelb(l)au
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O edifício projectado pelo gabinete austríaco é em vidro, aço e betão
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A área de exposições, com 11.000 metros quadrados, está distribuída por quatro níveis
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O novo museu conjuga a história natural, as ciências humanas e a tecnologia
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O novo museu tem 2,2 milhões de objectos
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As colecções contam a história natural do planeta e o percurso da humanidade, na sua história e geografia
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Aves empalhadas
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Aves empalhadas
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Aves empalhadas
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O arquitecto austríaco Wolf Dieter Prix, da Coop Himmelb(l)au
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O museu tem uma localização que proporciona vistas fantásticas aos visitantes
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O museu tem uma localização que proporciona vistas fantásticas aos visitantes
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Um paleontólogo segura num osso de dinossauro durante a montagem da exposição
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Vários esqueletos de dinossauros

O Musée des Confluences de Lyon, uma arrojada obra de arquitectura desconstrutivista desenhada pelo gabinete austríaco Coop Himmelb(l)au, abre esta sexta-feira na cidade francesa de Lyon, 15 anos (e várias derrapagens orçamentais) após o arranque do projecto.

Os números oficiais apontam para um custo de 255 milhões de euros, contra os 400 milhões de francos (61 milhões de euros) inicialmente previstos, o que representa uma derrapagem de cerca de 400 por cento. Mas a Canol, uma associação local que se propõe vigiar a utilização de dinheiros públicos, garante que os custos reais se situam nos 328 milhões de euros. O novo museu, que conjuga a história natural, as ciências humanas e a tecnologia, é “uma catástrofe económica”, disse ao jornal Libération um dirigente da Canol, Pierre Desroches, lembrando que museus recentes com programas mais ou menos comparáveis, como o Quai-Branly, em Paris, ou o MuCEM, em Marselha, inaugurado em Junho de 2013, custaram respectivamente 232 e 191 milhões de euros.

A Canol também não acredita que os custos anuais de manutenção do museu se venham a manter dentro dos 18 milhões de euros orçamentados, prevendo, com base nos números do museu do Quai-Branly , que possam atingir 34 milhões.

O antigo presidente do departamento do Rhône (Ródano), Michel Mercier, que esteve na origem do projecto, já assumiu a sua quota-parte de responsabilidade nas derrapagens financeiras, reconhecendo mesmo que elas lhe pareceram inevitáveis a partir do momento em que o projecto foi confiado ao gabinete austríaco Coop Himmelb(l)au, cujo nome pode significar “construção azul” ou “céu azul” consoante se inclua ou não o “l” entre parêntesis.

“Desde 2001 que sabíamos que o preço anunciado não era realista, porque as estimativas tinham sido feitas para um edifício clássico, quadrado ou rectangular”, disse Mercier ao Libération. “Quando se escolheu uma coisa de arquitectura desconstruída, sabíamos que ia ser mais caro”. O projecto vencedor nunca agradou a Mercier, mas agora que o edifício está finalmente construído – com um atraso de dez anos sobre a data de inauguração inicialmente prevista – é difícil negar que vem dotar Lyon de um objecto altamente icónico, estrategicamente situado na confluência do Ródano e do Saône, na entrada sul da cidade.

Uma localização que proporciona vistas fantásticas aos visitantes, mas que também contribuiu para o atraso e encarecimento da obra, já que se trata de uma zona de aluviões e foram necessárias complexas medidas de consolidação do terreno. “Era o pior sítio possível, e eu teria preferido construir noutro lugar, mas Raymond Barre [então presidente da Câmara de Lyon] insistiu que fosse ali”, diz Mercier.

O edifício projectado pelo gabinete austríaco, todo em vidro, aço e betão, compõe-se, segundo os arquitectos que o projectaram, de três elementos: o “cristal”, a “nuvem” e a “base”. A entrada no museu faz-se pelo “cristal”, uma estrutura de vidro que dá acesso à “nuvem”, a área de exposições, com 11.000 metros quadrados distribuídos por quatro níveis. Os dois auditórios do museu, bem como os seus espaços técnicos, estão concentrados sob a nuvem, na base.

Dirigido por Hélène Lafont-Couturier, ex-responsável do Museu da Imigração, em Paris, e do Museu da Aquitânia, este Museu das Confluências de Lyon abre na sexta-feira as portas, num edifício construído de raiz, mas tem uma longa história, assumindo-se como herdeiro de várias instituições museológicas locais, com destaque para o Museu de História Natural Émile Guimet, baptizado com o nome de um industrial, viajante e coleccionador oitocentista natural de Lyon, que fundou também um museu em Paris com o seu nome.

Reunindo acervos de várias origens, enriquecidos com as aquisições que foram sendo feitas na última década e meia, o novo museu tem 2,2 milhões de objectos, que contam a história natural do planeta e o percurso da humanidade, na sua história e geografia, com colecções especializadas que abrangem a entomologia ou a mineralogia, a arqueologia ou a história das ciências, e que reúnem objectos vindos de todos os continentes.

Uma das estrelas da exposição permanente é um esqueleto de Camarasaurus, um dinossauro de 14 metros de comprimento e quase cinco de altura, que viveu na América do Norte há 150 milhões anos e que agora convive com múmias peruanas e antiquíssimas estatuetas egípcias, mas também com artefactos francamente mais recentes, como um modelo do satélite Sputnik 2 ou um antigo (por assim dizer) acelerador de partículas.

Para a abertura, o museu preparou duas exposições: Tesouros de Guimet, centrado nas colecções do industrial, e A Câmara das Maravilhas, que evoca a história do coleccionismo desde os gabinetes de curiosidades que precederam os museus de História Natural.

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