Luís Represas pôs as canções a “respirarem de um modo diferente”

Vozes, guitarra, piano e contrabaixo: Luís Represas edita em CD e DVD um espectáculo de 2014. Convidados: Ricardo Ribeiro e Stewart Sukuma.

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Luís Represas no CCB em Outubro de 2014 Vânia Marecos
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Luís Represas com Stewart Sukuma e Ricardo Ribeiro Vânia Marecos

Pouco mais de um ano após o lançamento de Cores, o seu mais recente disco de estúdio, Luís Represas apresenta agora, em CD duplo e DVD, o espectáculo que daí resultou e a que deu o nome de Tratamento Acústico.

Regista na íntegra o concerto que o músico deu no Centro Cultural de Belém (CCB) a 25 de Outubro de 2014, e onde se fez acompanhar por apenas dois músicos da sua banda, Carlos Garcia no piano e Cícero Lee no contrabaixo. Isto além dos coros, claro (Manuel Albuquerque, José Pedro Albuquerque, Sofia Formigal e Liliana Silva) e de dois convidados muito especiais: os cantores Ricardo Ribeiro e Stewart Sukuma.

Quem vir o DVD verá o concerto tal como aconteceu, diz Luís Represas. “Quis que ele espelhasse aquilo que o concerto foi, o mais completo possível (não cortei nada nas conversas).” E o que se ouve são 24 canções, várias delas do novo disco mas outras que vêm mais de trás, até dos Trovante. E outras ainda que nem são do seu repertório, por via dos convidados. Mas todas com o mesmo tratamento (acústico, como diz o título): "Sou péssimo a dar nomes a discos, mas acho que este foi o melhor até hoje. Porque é exactamente isso: tratamento acústico. Para o Cores e para os outros discos, porque todas estas canções passaram pelo mesmo tratamento.”

Foi um corte com o que faz habitualmente. “Sempre cheguei a palco retratando o mais possível os arranjos que fiz nos discos, com os músicos todos, mas aqui fiz o contrário. Quis privilegiar mais as músicas e as canções quase como no momento em que foram feitas. E as canções vivem e respiram de um modo diferente.”

Luís Represas nunca tinha cantado com Ricardo Ribeiro, a não ser “num jantar de uns amigos” onde cantaram Perdidamente (canção com letra de Florbela Espanca que foi retomada agora, pelos dois, neste espectáculo). “É um músico novo mas uma alma antiga. É muito profundo. Quando cantei com ele, senti uma enorme vibração e uma enorme energia e pensei que teria de o levar comigo para cima do palco mais tarde ou mais cedo.” Achou que aquele era o momento ideal. “Porque embora ele estivesse habituado a actuar com uma massa sonora não muito pesada, ali estava com músicos que não são da praia dele. E que conferiam às suas canções outro tipo de ambiente.” Com Ricardo, ouviram-se no CCB Fado do Alentejo, Ternura e Perdidamente.

Já quanto a Stewart Sukuma, músico e cantor moçambicano que em finais de 2014 também se apresentou a solo em Lisboa, no Coliseu dos Recreios, a relação era outra, diz Represas. “Identificamo-nos muito, não só humanamente como musicalmente. Já trabalhámos juntos, aqui e em Moçambique e participei no disco dele. Ele também vai para cima do palco sempre com bandas muito grandes, é um cantor superenergético, e quis trazê-lo para este ambiente minimalista. Entrou imediatamente no espírito da coisa.” Com Stewart vieram as canções Batata doce, Papalati e Cerâmica negra.

No final do espectáculo, já no encore, cantaram os três a clássica 125 azul. “Tanto o Ricardo como o Stewart estão ali a aplicar a sua personalidade artística. E era isso que eu queria, é disso que eu gosto.” Gravado o espectáculo, o trabalho posterior de estúdio foi mínimo. “Foi quase só levantar níveis e corrigir frequências, de resto ficou tudo como estava, não houve dubbings. Há até pequenas imperfeições que deixámos passar.” A audição de Tratamento Acústico assemelha-se muito a uma transmissão em directo, seja na rádio (os dois CD) ou na televisão (o DVD, que tem duas horas e 19 minutos).

“Diverti-me imenso. Porque este espectáculo permite não só o palco descer à plateia como a plateia subir ao palco.”

 

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