Lou Reed entrou para o Rock and Roll Hall of Fame

Patti Smith apresentou a distinção com um discurso emocionado. Laurie Anderson, a viúva do músico, recebeu o prémio. Karen O e Nick Zinner, dos Yeah Yeah Yeahs, e Beck homenagearam o músico em palco.

Beck cantou <i>Satellite of Love</i>
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Beck cantou Satellite of Love AFP
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Patti Smith emociou-se durante o seu discurso Reuters
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Laurie Anderson recebeu o prémio em nome de Lou Reed AFP
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Karen O e Nick Zinner actuaram Vicious AFP
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Beck AFP

1996. Os Velvet Underground entram para o Rock and Roll Hall of Fame. Lou Reed actua com John Cale e Moe Tucker tocando o tema Last night I said goodbye to my friend dedicado a Sterling Morrison, que tinha morrido meses antes. Patti Smith é quem apresenta a banda, rasgando-lhe os maiores elogios.

2015. Lou Reed entra para o Rock and Roll Hall of Fame, agora em nome próprio, mas desta vez é o músico, que já não se encontra entre nós, o centro das homenagens. Foi neste fim-de-semana, e Patti Smith voltou a apresentar o momento, com um discurso emotivo e algumas lágrimas à mistura. “Lou, obrigada por teres injectado brutal e benevolentemente a tua poesia na música".

Sem Lou Reed, e sem os seus Velvet Undreground, Patti Smith não tinha provavelmente existido. Não, pelo menos, da maneira que a conhecemos hoje. Não a artista que Patti Smith é. Não a Patti Smith que em Junho actuará no Nos Primavera Sound, no Porto.

Ela mesma já o disse várias vezes. A sua vida, a sua carreira, é indissociável de Lou Reed. Foi ele o principal compositor, a voz mais importante e a guitarra dos Velvet Underground, marcando a Nova Iorque boémia e artística dos anos 1960. Nova Iorque que décadas, e tantos artistas depois, não esqueceu o músico e compositor, como lembrou Patti Smith no último sábado ao fazer entrar Lou Reed no Rock Hall of Fame, quase dois anos após a sua morte.

“No dia 27 de Outubro de 2013, estava em Rockaway Beach e recebi a mensagem de que Lou Reed tinha morrido. Foi um momento solitário”, começou por dizer Patti Smith, contando que voltou então a Nova Iorque, numa viagem de 55 minutos de metro, e a “cidade toda estava transformada”.

“As pessoas estavam a chorar nas ruas. Eu podia ouvir a voz do Lou a sair de cada café. Toda a gente estava a passar a sua música. Toda a gente andava entorpecida. Estranhos vinham ter comigo e abraçavam-me. O rapaz que me fez o café estava a chorar. Foi a cidade inteira”, continuou a autora de Horses. “Percebi, naquele momento, que me tinha esquecido, no metro, que ele não era só meu amigo, ele era o amigo da cidade de Nova Iorque.”

Patti Smith lembrou ainda a primeira vez que viu Lou Reed ao vivo, e como de repente os dois ficaram amigos. “Era uma amizade complexa, às vezes antagónica e às vezes doce”, disse a cantora, sem esconder a emoção, entregando depois a distinção a Laurie Anderson, a viúva de Lou Reed.

“É maravilhoso estar aqui em Cleveland, e o Lou teria adorado isto”, disse a compositora e música que casou com Lou Reed em 2008. “Ele está aqui com os seus heróis – Otis e Dean. Está aqui com B.B. King, que ele adorou e admirou. Aretha, que tantas vezes viu. O seu querido amigo Doc Pomus, que tanto o ensinou e com ele cantou no seu belo disco Magic and Loss. É claro, o Rock and Roll Hall of Fame é o lugar onde os nomes de grandes músicos se tornam completamente em palavras mágicas – Buddy Holly, Little Richard, os Coasters. E, agora, Lou Reed é uma destas palavras mágicas.”

Laurie Anderson contou ainda como depois da morte do seu marido milhares de pessoas a contactaram para lhe dizer como as suas vidas tinham mudado por sua causa. Amigos de tantos músicos, tantos artistas. E todos tão diferentes. “Um dos seus últimos projectos foi o álbum com os Metallica”, disse, contando como foi “desafiante” para Lou Reed fazer este disco que dividiu a crítica. No entanto, para David Bowie Lulu, assim se chama o álbum, “é uma obra-prima”.

Laurie Anderson recordou a conversa que Bowie teve em tempos consigo e onde defendia que o disco com os Metallica “é o melhor trabalho de Lou”: “Vai ser como Berlin. Vai levar um bocado a que todos o alcancem”, acrescentou. “Estive a ler as letras e é tão feroz. É escrito por um homem que entendia o medo e a raiva, o veneno e o terror, a vingança e o amor”, disse ainda Laurie, concordando com Bowie, emocionada mas feliz por receber a distinção de Lou Reed.

Aos discursos, seguiram-se actuações de homenagem ao músico. Karen O, líder dos Yeah Yeah Yeahs, subiu ao palco com o seu guitarrista Nick Zinner e os dois tocaram Vicious, enquanto Beck escolheu cantar Satellite of love.

Na mesma cerimónia, entraram para o Rock and Roll Hall of Fame os Green Day, Joan Jett & the Blackhearts, Stevie Ray Vaughan, Bill Withers e a banda de blues de Paul Butterfield.

Outro momento especial da noite foi quando Paul McCartney apresentou o prémio de excelência a Ringo Starr, o antigo baterista dos Beatles. Foi o último da icónica banda a entrar para o Rock and Roll Hall of Fame em nome próprio. “Todos me perguntavam porque esperei tanto tempo. Não teve nada a ver comigo, é preciso ser convidado”, contou Ringo no seu discurso de agradecimento, mostrando-se satisfeito por finalmente ter sido convidado. “Estou a adorar”, disse o músico, que também actuou na gala, presenteando os participantes na cerimónia com um medley de canções dos Beatles, que terminou com I wanna be your man.

Já antes da cerimónia, em entrevista à Rolling Stone, Yoko Ono definiu Ringo Starr como “o Beatle mais influente”. 

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