Lisbon Week vai contar a história de Pardal Monteiro e da Lisboa moderna

A Lisbon Week está de volta para uma 3ª edição mais centrada no património da cidade – desta vez no bairro de Alvalade, onde, de 10 a 19 de Abril, haverá visitas guiadas e exposições.

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A Biblioteca Nacional foi projectada pelo arquitecto Porfírio Pardal Monteiro rui gaudêncio

Da Biblioteca Nacional de Portugal ao Hospital Júlio de Matos, do Jardim do Campo Grande ao complexo dos Coruchéus, da Reitoria da Universidade de Lisboa aos museus da Cidade e Bordalo Pinheiro – este ano, na sua 3ª edição, o festival Lisbon Week convida os lisboetas a conhecer melhor o bairro de Alvalade.

Serão, ao todo, 11 visitas guiadas e 12 exposições para, entre 10 e 19 de Abril, descobrir um bairro onde os turistas normalmente não chegam, e pelo qual muitos lisboetas também não passam.

“Os turistas têm que começar a passar do Marquês de Pombal para cá”, defendeu André Caldas, presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, na apresentação, esta quinta-feira, da programação da Lisbon Week no histórico café Vavá, no cruzamento das avenidas de Roma e dos Estados Unidos da América.

A arquitecta Ana Tostões será uma das guias desta viagem por um bairro que conhece muito bem e que considera “um caso de sucesso extraordinário”. Falando no Vavá, Ana Tostões explicou que aqui houve a vontade de “fazer bem um pedaço de cidade”, e que, apesar de se estar nos anos 1940, o urbanismo “já foi pensado com as suas componentes sociais e humanas”. Um exemplo disso é a presença de escolas, espalhadas de maneira que as crianças pudessem ir a pé, de casa para a escola e da escola para casa, dando ao bairro uma escala humana.

Muitos casais jovens instalaram-se nesta parte moderna da cidade e, lembra ainda Ana Tostões, “no final dos anos 50 nasceram aqui muitas crianças”. Por isso, quando o 25 de Abril de 1974 aconteceu, este era um local cheio de jovens e de dinamismo, com debates políticos e tertúlias culturais em cafés como o Vavá. Xana Nunes, a criadora da Lisbon Week, foi uma dessas crianças que nos anos 60 nasceu no bairro de Alvalade e, confessou também durante a apresentação, essa foi uma das razões pelas quais quis muito agora abri-lo à cidade.

Comparada com as anteriores, em que havia vertentes de música, gastronomia e outras, esta terceira edição da Lisbon Week centra-se mais no património e nas histórias da cidade. Assim, Ana Tostões irá falar dos principais marcos arquitectónicos e da evolução do bairro na visita Lisboa Moderna, que, em autocarro, percorrerá locais como a Praça de Londres, o Bairro das Estacas, a Escola do Bairro de São Miguel ou a Avenida do Brasil.

Outro guia nestas visitas – e colaborador habitual da Lisbon Week desde a primeira edição – é o olissipógrafo José Sarmento de Matos, que nos convida a recuar um pouco mais no tempo, percorrendo o Campo Grande e recordando a história das quintas que aqui existiram, a época em que foi passeio público e palco de feiras, e a remodelação feita nos anos 40 neste jardim no meio da cidade onde, ainda hoje, é possível passear num barco a remos no pequeno lago.

Figura essencial para a história desta parte da cidade é o arquitecto Porfírio Pardal Monteiro, autor de projectos como a Reitoria da Universidade de Lisboa, a Biblioteca Nacional ou a Faculdade de Letras. Por isso, a Lisbon Week decidiu organizar uma exposição sobre a obra de Pardal Monteiro, com curadoria de Ana Tostões e João Pardal Monteiro. Patrocinada pela Caixa Geral de Depósitos, realiza-se na nova sala de exposições da Biblioteca Nacional.

Trata-se, segundo Xana Nunes, de uma homenagem que tardou 77 anos, dado que a última mostra sobre Pardal Monteiro aconteceu em 1938, no Instituto Superior Técnico. Além da exposição, haverá uma visita cultural de autocarro em torno da figura de Pardal Monteiro, com curadoria de João Pardal Monteiro, e passagem pelas principais obras do arquitecto.

Para (re)encontrar Maria Keil e olhar com uma nova atenção para o seu trabalho de azulejaria nas estações de metro, com o qual nos cruzamos muitas vezes, a Lisbon Week propõe uma descida ao metropolitano de Alvalade. Xana Nunes aproveitou a apresentação da programação para ler um excerto de uma entrevista de Maria Keil na qual esta recorda como, juntamente com o marido, o arquitecto Francisco Keil do Amaral, contornou a falta de dinheiro e encontrou a solução para decorar as paredes interiores do metro, evitando que este ficasse reduzido a “um subterrâneo só com cimento”.

Haverá ainda outras duas exposições, uma com os diários gráficos em Alvalade do colectivo de ilustradores Urban Sketchers, que poderá ser vista na Reitoria da Universidade. E outra, intitulada Vanguarda, no Centro Comercial Alvalade, que, através de fotografias do Arquivo Municipal de Lisboa, “recua até à década de 50 para mostrar o dia-a-dia de Alvalade: as enormes avenidas, os prédios de cores, os cafés em edifícios singulares, os carros estacionados de forma organizada”.

O Hospital Júlio de Matos vai, por seu lado, tornar-se palco de uma peça de “teatro imersivo”, de Nuno Moreira e Ana Padrão, descrita como um cruzamento entre “a tragédia amorosa de Pedro e Inês de Castro e a invenção da lobotomia por Egas Moniz”. Por fim, o Mercado de Alvalade receberá um chef internacional, numa parceira com o festival Peixe em Lisboa, que decorre na mesma altura.

Nesta edição, a organização mantém algumas actividades gratuitas, mas, como explicou Xana Nunes, para garantir a sustentabilidade do projecto, introduz bilhetes para outras: 5 euros para visitar os edifícios, 7 euros para as visitas de autocarro. Os bilhetes para todas as actividades encontram-se já em fase de pré-venda (até 5 de Fevereiro) na Ticketline, e a programação completa pode ser consultada em www.lisbonweek.com

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