Lisbon Week convida a cidade a descobrir o bairro de Alvalade na Páscoa de 2015

Iniciativa passa a bienal para permitir mais tempo de preparação, e aposta numa época do ano com menos eventos.

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Cidade universitária, em Lisboa Rita Chantre

E à terceira edição, a Lisbon Week reinventa-se. Vai realizar-se na Páscoa, e não em Outubro, como nas duas edições anteriores; passa a ser bienal; e vai ancorar-se de forma mais profunda num bairro da cidade: para 2015, Alvalade. A programação oficial será apresentada em Outubro.

A mudança para a altura da Páscoa prende-se em parte com “a necessidade de termos mais tempo para fazer um levantamento da zona que decidimos trabalhar, e para criar uma programação original”, explicou ao PÚBLICO Xana Nunes, a criadora da Lisbon Week, num encontro no jardim do Palácio dos Coruchéus, que será um dos pontos de passagem obrigatórios no próximo ano. Além disso, na Páscoa a agenda de eventos da cidade não está tão preenchida.

O objectivo é também aproveitar o grande número de estrangeiros que visitam Portugal nessa altura e tornar a Lisbon Week mais aberta ao público internacional. Na última edição, cerca de 20% dos visitantes foram estrangeiros, mas isso aconteceu de forma espontânea, sem que tivesse havido uma divulgação especialmente dirigida a eles. Agora, com mais tempo, frisa Xana Nunes, será mais fácil trabalhar essa vertente.

Mas a Lisbon Week continua a ser, em primeiro lugar, virada para os lisboetas, e, neste caso, muito em especial para os habitantes de Alvalade. André Caldas, presidente da junta de freguesia, conta que não hesitou um minuto quando lhe chegou a proposta de Xana Nunes. “A Lisbon Week é o parceiro ideal para o bairro dar o salto que lhe falta”, diz.

Encara a vinda da bienal como uma oportunidade para revitalizar uma freguesia que é uma das maiores da cidade em termos de território e a quinta a nível de população. Uma população que tem envelhecido? Essa ideia não é totalmente correcta, afirma André Caldas. “Entre 2001 e 2011 perdemos perto de quatro mil pessoas acima dos 65 anos, e a única faixa etária em crescimento é a entre os zero e os 14 anos.” “São geralmente as zonas mais envelhecidas as primeiras a conhecer um rejuvenescimento”, acrescenta Graça Fonseca, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa. Segundo André Caldas, a nova população que começou a fixar-se no bairro “não são os filhos dos que vieram morar para Alvalade no início, são já os netos”.

Por outro lado, sublinha André Caldas, esta é uma freguesia com condições excepcionais. “Não encontra outra zona na cidade com a quantidade de equipamentos culturais que existem aqui.” Lembra que Alvalade inclui toda a zona do Campo Grande e da Cidade Universitária, a Biblioteca Nacional, cinemas, teatros. Por isso, a bienal está também nos muitos que vivem a freguesia de outras formas, entre os quais os milhares de estudantes universitários. Até porque, diz a vereadora da câmara, “aos poucos, Lisboa vai começando a ganhar consciência de que é uma cidade universitária”.

Talvez não haja aqui o mesmo espírito de bairro que nas zonas mais antigas, mas, afirma ainda Graça Fonseca, “a forma como as pessoas se relacionam com o território mudou radicalmente nos últimos vinte anos”. Por isso é que “iniciativas como a Lisbon Week têm de ser o mote do repensar a forma como isso acontece.” Uma das iniciativas recentes da junta de freguesia foi a de colocar à votação dos moradores as propostas para um novo logótipo – uma forma de reforçar a relação entre a imagem e identidade do bairro e quem mora nele.

A arquitectura vai ser um dos pontos fortes da programação da Lisbon Week, já que este é o bairro da Lisboa moderna, onde um novo estilo de arquitectura se afirmou nos anos 1950 e 60, com ruas e prédios modernos que o Novo Cinema português registou em filmes como os Verdes Anos, de Paulo Rocha, e cafés, como o Vavá, onde nasceram tertúlias culturais.

O objectivo de Xana Nunes é que a Lisbon Week deixe marcas fortes no bairro e contribua para uma dinâmica que se perpetue mesmo depois de terminada a bienal. As edições anteriores estavam divididas em áreas, da Arte à História, da Música à Gastronomia, da Arquitectura à Inovação. A próxima ainda terá essas áreas, mas “partirá mais dos edifícios”, explica a organizadora. Sem poder adiantar pormenores, diz apenas que será natural desenvolver trabalhos com os artistas dos ateliers dos Coruchéus, por exemplo.

A bienal é uma oportunidade – que já se concretizou nas outras edições, muito graças ao trabalho do olissipógrafo José Sarmento de Matos, que continua ligado ao projecto – de abrir portas habitualmente fechadas ao público. André Caldas espera que isso contribua não só para os moradores passarem a ter outra relação com estes locais tão próximos deles. “Queremos dizer ‘sabia que isto estava aqui?’, mas queremos também colocar Alvalade no roteiro turístico de cidade.” O bairro não figura geralmente nos guias da cidade destinados aos turistas, mas o responsável da junta está convicto de que há imensos pontos de interesse, sobretudo para o crescente número de turistas que viajam para ver arquitectura.

Quanto a parcerias, Xana Nunes diz que se mantêm as que já tinha com várias marcas. “Não queremos transformar Lisboa numa feira de sponsors”, garante, mas estão interessados em todos os parceiros que queiram participar nesta “descoberta da cidade”.          

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