“Lisboa fica com o museu mas a genialidade vai para Matosinhos”

Arquitecto entregou desenhos, esquissos e maquetas do museu à Casa da Arquitectura de Matosinhos.

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Mendes da Rocha na cerimónia de doutroramento honoris causa no salão nobre do Instituto Superior Técnico DR

Nas vésperas da inauguração do museu, o arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha tem um programa cheio em Lisboa: foi-lhe atribuído o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa e o arquitecto oficializou a entrega do projecto do Museu dos Coches em Lisboa à Casa da Arquitectura em Matosinhos.

Foi na quarta-feira à tarde que Mendes da Rocha esteve no salão nobre do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde confessou uma “profunda emoção” pela distinção, dedicando-a à memória do seu pai, um engenheiro que seguiu a tradição da família. Disse que o título e a cerimónia “aproximam duas grandes universidades da nossa língua, a Universidade de São Paulo [onde foi professor] e a Universidade de Lisboa”. “Mais uma vez estamos juntos, Portugal e Brasil”.

A arquitecta Ana Tostões fez as honras apresentando o homenageado e amigo: “É um dia de júbilo porque se celebra a arquitetura do mundo, da lusofonia e da cultura ibero-americana.” Tostões lembrou que após a sua formatura em 1954 na Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, Mendes venceu, três anos depois, o concurso nacional para o Ginásio do Clube Paulistano, “com uma proposta estruturalmente audaciosa, reunindo betão e cabos de aço, aliando rigor de concepção e fluidez espacial, requalificando ao mesmo tempo a ideia de espaço público que é trazido ao interior do edifício”. O projecto foi premiado na Bienal de São Paulo em 1961, dando início a uma carreira profissional, “que apesar de perturbada em parte pelas vicissitudes da política ditatorial militar, que se instala no país nos anos 60, nunca chega de facto a ser travada”.

Mendes da Rocha vence novo concurso nacional, em 1970, para construir o Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Osaka. Ana Tostões falou ainda de um dos seus projectos mais conhecidos, a reabilitação da Pinacoteca de São Paulo (1993-1998), em que “nada é modificado mas tudo é transformado”. O arquitecto cobriu três pátios internos e fez os visitantes percorrerem o espaço através de pontes de ferro. A professora do Técnico destacou ainda o projecto para o Centro Cultural Fiesp (1997-1998), onde Mendes da Rocha fez uma intervenção numa torre dos anos 60, remodelando os acessos, “através de criteriosas demolições”, e libertando uma ampla área “tornada domínio publico”. Tostões classificou como “uma pequena obra-prima” a Capela de São Pedro em Campos de Jordão.

Na sede da Ordem dos Arquitectos, também em Lisboa, o arquitecto doou, noutra cerimónia pública no final da tarde do mesmo dia, o projecto do Museu dos Coches à Casa da Arquitectura de Matosinhos, nomeadamente desenhos, esquissos e maquetas. Guilherme Pinto, presidente da câmara de Matosinhos, e por inerência da Casa da Arquitectura, ironizou: “Lisboa fica com o museu, mas a genialidade vai para Matosinhos para a Casa da Arquitectura.”

Em conversa com o PÚBLICO, Mendes da Rocha lembrou que o Museu dos Coches, “tem uma graça especial como projecto para um arquitecto, porque já existia como facto urbano da cidade”. “Nós o que fizemos foi ampará-lo com uma nova espacialidade”. Falou do antigo museu como um espaço “acanhado”, que não fazia jus “a uma das exposições mais importantes do mundo”.

Durante a cerimónia, lembrou a “timidez” que sentiu quando aceitou fazer este projecto, devido à “expectativa” e ao significado que representa para os portugueses. Futuramente, vê-o como um museu “muito vivo”, confessando-se angustiado com o que “o povo vai achar”. “A ideia é de que goze muito.”

Editado por Isabel Salema

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