Lars von Trier não veio, mas Shia LaBeouf fez as suas vezes

Actor americano cita Éric Cantona e abandona conferência de imprensa de apresentação da versão longa de Ninfomaníaca. Lars von Trier esteve em Berlim mas não foi à conferência de imprensa.

Shia LaBeouf falou apenas uma vez e abandonou a conferência de imprensa
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Shia LaBeouf falou apenas uma vez e abandonou a conferência de imprensa AFP
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Lars von Trier aprendeu a lição com o sururu que a sua declaração de "ser um nazi" em Cannes 2010, quando apresentou Melancolia, gerou à sua volta. Desta vez, com a versão longa de duas horas e meia de Ninfomaníaca Volume I a receber estreia fora de concurso em Berlim, ficou em casa. Mandou em seu lugar a produtora Louise Vesth e parte do elenco do filme – Stacy Martin, Uma Thurman, Christian Slater, Stellan Skarsgård e Shia LaBeouf (Charlotte Gainsbourg ficou em Paris, por ter acabado de regressar de uma rodagem no Canadá).

O sururu, contudo, existiu na mesma. Apesar de várias perguntas aos actores, Shia LaBoeuf, que conhecemos dos filmes da série Transformers ou do papel de filho de Harrison Ford em Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, manteve-se mudo e quedo, escondido por trás de um boné. Nada de surpreendente sabendo como o actor tem reputação de ser um moço complicado. Até ao momento em que uma jornalista pergunta como LaBeouf e a estreante Stacy Martin enfrentaram as primeiras cenas de sexo.

Depois da resposta de Martin, LaBeouf disse: "Quando as gaivotas seguem a traineira, é porque pensam que se vão atirar sardinhas ao mar. Muito obrigado." Levantou-se e foi-se embora, perante a estupefacção de uns e a hilaridade de outros.

A frase, claro, é a célebre e oblíqua declaração que o futebolista Éric Cantona fez em 1995 aquando do célebre incidente do "pontapé de kung fu" que levaria à sua suspensão do Manchester United pela Federação Inglesa de Futebol durante uma época. Foi, também, o único "episódio" de uma conferência de imprensa que, coisa rara em Berlim, se manteve estritamente no tópico do filme (a pedido específico do moderador) mas que poucas novidades trouxe.

Ninfomaníaca só agora vai estrear na Alemanha, e Berlim apenas mostrou a "versão longa" da primeira parte, com a estreia internacional da segunda parte ainda por marcar (especula-se que será em Cannes, mas nada foi ainda confirmado, pois supostamente Von Trier é persona non grata no festival francês desde as declarações de 2010). Para a produtora do filme, Louise Vesth, "as versões longas incluem todo o material que o Lars queria usar. Vão mais fundo na discussão do tema, têm um ritmo mais lento e as cenas de sexo são mais explícitas". No caso do volume I, trata-se de mais meia hora de imagens.

Quanto à reputação do realizador, Stellan Skarsgård, que já por várias vezes rodou com Von Trier, confessa: "já nem parece trabalho. É muito mais fácil filmar com ele do que com muitos outros." Stacy Martin, que interpreta a personagem de Charlotte Gainsbourg em mais nova, considera-o "muito gentil e confiante"; Christian Slater ficou surpreendido com a insistência de Von Trier em levar o tempo necessário. Para Uma Thurman, foi uma experiência ideal. "Nunca temos oportunidade de rodar um filme como se estivéssemos em palco. Decorar as sete páginas de diatribe feminina que o Lars escreveu sobre a raiva foi um desafio, e rodá-las assim, em takes contínuos de 25 minutos, é espantoso."

E que se continue a falar de Ninfomaníaca é testamento da capacidade de Lars von Trier de gerar interesse mediático. Como Stacy Martin diz, "é isso que o Lars von Trier faz: criar tópicos de debate que por vezes nos fazem sair da nossa zona de conforto. É o Lars. Os filmes dele são assim."

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